Os ataques rasteiros a Yoani Sánchez (no Brasil) |
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Miércoles, 12 de Junio de 2013 12:14 |
Por Daniel Lopes.-
A jornalista e ativista pró-democracia Yoani Sánchez enfim está saindo de Cuba para uma passagem por vários países, entre os quais o Brasil. Os veículos mais respeitáveis da esquerda ainda não publicaram seus textos ok-a-causa-dela-é-justa-mas-ela-também-não-é-nenhum-anjo. Mas ativistas e sites das camadas mais baixas, mas não pouco influentes, da banda progressista nacional já se movimentam há alguns dias, e se movimentarão ainda mais nos dias que seguem. Não, eles não acham que Yoani seja um anjo.
Uma das denúncias mais frequentes e toscas que se faz à blogueira é a de sua condição de “rica”. Sem dúvida, o salário pago a ela pelo jornal espanhol El País é bem razoável, apesar de não lhe transformar numa milionária. (Uma variante desse ataque é a linha do PC cubano de que a escritora “recebe dinheiro de potências estrangeiras”.) O que ela ganha, faz por merecer: por seu texto de qualidade, sua condição de dissidente célebre e seu papel de correspondente de um dos jornais mais respeitáveis do mundo na capital da última ditadura do continente americano. Para quem estiver realmente preocupado, há muitos outros trabalhadores com ocupação mais lamentável em Cuba – por exemplo, diretores de prisões que guardam presos políticos – e, possivelmente, com melhores salários.
Outros ataques apontam o fato de, embora Yoani ter passado os últimos tempos reclamando que não podia sair de Cuba, ela na verdade já ter conseguido sair, anos atrás, mas mesmo assim resolveu voltar. Esse é o argumento “Cuba: ame-a ou deixe-a”. Porque ninguém deve ter o direito de ficar num país se for para fazer oposição cerrada ao governo, ou tem? Yoani é cubana e com orgulho. Conhece como poucos a cultura do país. Não passa pela cabeça dos críticos que, ao manter campanha permanente contra a gerontocracia, ela honestamente queira o melhor para o país, porque os críticos associaram a gerontocracia ao melhor de Cuba.
O fato de Yoani ter saído e regressado a Cuba prova, na cabeça dessa esquerda com que estamos preocupados, que o regime cubano não pode ser tão ditatorial quanto dizem. Mas, sim, ele é. Não ter permitido a volta da blogueira lá atrás teria sido uma amostra de autoritarismo, da mesma forma que foi uma amostra de autoritarismo ter permitido a entrada mas não futuras saídas. E agora que Yoani pôde sair? Isso indica um relaxamento nesse ponto específico, relaxamento que se deve em grande parte a uma pressão internacional e nada a quem nunca achou que havia algo para relaxar, pra começo de conversa. Que ninguém se engane, porém: ainda há um longo caminho até a democratização.
Um intelectual bastante referenciado pelos ativistas brasileiros “pró-Cuba” é o sociólogo francês Salim Lamrani. Nunca ouviu falar? Não se preocupe, eu apresento. Lamrani é um professor universitário cuja especialidade é Cuba, e as relações desta com os Estados Unidos. Na opinião do professor Lamrani – que já subscreveu seu nome em vários manifestos por um mundo melhor –, virtualmente não há problemas em Cuba e, quando os há, é unicamente por culpa do bloqueio econômico estadunidense. No texto mais recente do destemido ensaísta traduzido no Brasil, publicado no Opera Mundi, ele jura que existe plena liberdade para debates na ilha e que Raúl Castro é “o verdadeiro dissidente” do pedaço. Pois é. Percepções em contrário existem apenas por culpa do “Ocidente” – essa entidade que, quando não está fazendo mal ao mundo, está interpretando mal o bem que se faz no mundo.
Salim Lamrani é a única autoridade que Altamiro Borges evocou para passar adiante bobagens contra Yoani Sánchez. Intelectualmente, Altamiro não existe. Se o cito aqui é porque ele personifica a chamada blogosfera progressista brasileira, e tem muitos milhares de leitores e seguidores. Ele também é “secretário nacional de Questão da Mídia” do Partido Comunista do Brasil, agremiação da base de apoio do governo federal, o que mostra como a defesa da “democratização da mídia” está muitas vezes nas mãos de apologistas de ditaduras. O PCdoB, por sua vez, é um exemplo acabado de falência moral na esquerda. Tendo nascido entusiasta de Mao Zedong e lutado para emplacar um maoismo adaptado às condições brasileiras, as bases do partido se mostram há algum tempo menos empolgadas com a China – país que chegou naquele estágio do socialismo em que falar mal do capitalismo dá cadeia – e mais afeitas a experiências mais próximas como Cuba e socialismos do século 21.
Uma linha que vai correr solta quando Yoani estiver pelo Brasil será a de que ela veio apenas ou principalmente para participar do Fórum da Liberdade, “de direita”. Primeiro: não, não veio. Segundo: bem, meus amigos, eu aposto que a moça adoraria receber um convite para debater Cuba, digamos, na sede da União Nacional dos Estudantes. Mas, se este e outros locais estão com as portas fechadas – ocorrendo também de, no caso da UNE, serem na verdade propagandistas do regime caribenho –, o que a jornalista deveria fazer? Falar apenas em praça pública? Esperar até que a esquerda se revolte contra a ditadura de esquerda e aí então lhe convide para um chá? No início do ano passado, Yoani teria gostado de vir ao Brasil para o lançamento do documentário Conexão Cuba-Honduras. Na ocasião, o senador Eduardo Suplicy soltou uma carta aberta ao embaixador de Cuba no Brasil, Carlos Zamora Rodríguez, intercedendo em prol da dissidente. Em vão.
Por outro lado, o que o senhor Rodríguez fez, agora, foi transformar a embaixada cubana em Brasília num centro para propagação de calúnias contra Yoani Sánchez. De acordo com o apurado pela Veja, gente do PT, do PCdoB e da CUT esteve reunida com representantes da ditadura, entre os quais um “conselheiro político” (Rafael Hidalgo) e o próprio embaixador. Na ocasião, foi apresentado um “dossiê” recheado de informações supostamente constrangedoras sobre Yoani, para serem espalhadas durante sua passagem pelo Brasil.
Independente do escalão, a presença de gente do PCdoB numa reunião dessas jamais me surpreenderia. Da CUT, deve ter sido gente pequena, nos dois sentidos. Do PT, idem. Exceto pela presença de Augusto Poppi Martins, nada menos que assessor do influente ministro Gilberto Carvalho. Isso é preocupante e justificaria a presença de Carvalho para prestar esclarecimentos no Congresso. Poppi Martins recebe salário para ser “coordenador geral de Novas Mídias” da Secretaria-Geral da presidência.
Tomado de AMÁLGAMA
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Última actualización el Miércoles, 12 de Junio de 2013 12:22 |
O “novo” chavismo sem Chávez: decomposição e barbárie |
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Sábado, 11 de Mayo de 2013 10:00 |
Por M.Teresa Romero.-
As análises abundam em torno da selvagem agressão dos parlamentares do governismo contra os da oposição na Assembleia Nacional venezuelana, que deixaram como saldo nove feridos entre eles três consideráveis. A conhecida deputada Maria Corina Machado, atual Coordenadora da Área Internacional do Comando Simón Bolívar, foi atirada ao chão e agredida a chutes. No momento em que escrevo estas linhas, dizia-se que poderia ter duas costelas quebradas. Já o deputado por Primeiro Justiça, Julio Borges, teve uma fratura no rosto, o malar, que é o que sustenta o olho. Já na semana passada o deputado William Dávila teve que ir ao médico para dar seis pontos de sutura no rosto por outra agressão no Parlamento.
Maria Corina Machado e Julio Borges depois da agressão dos chavistas na Assembleia da Venezuela
Por que chegar a este nível de violência que, ainda que o chavismo quisesse ocultar evitando sua transmissão pelo canal televisivo do Estado, sabia que de imediato seria conhecida pela opinião pública nacional e internacional, que saberiam quem a protagonizaram sob o olhar audaz, risos francos e o silêncio do presidente da AN Diosdado Cabello e demais diretivos parlamentares? Muitos de nós nos perguntamos isso.
Fala-se da possibilidade de que se seja uma tática de distração das acusações comprovatórias da fraude eleitoral do passado 14 de abril que compromete o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) que, entre outros jornais, já recolheu o espanhol ABC do dia 30 de abril sob o título “O Conselho Eleitoral venezuelano esteve implicado na campanha chavista” (Ver: http://www.abc.es/internacional/20130430/abci-venezuela-fraude-201304292106.html).
Outros vêem na barbárie parlamentar uma forma de intimidar a oposição, que não para de demandar de forma pacífica uma auditoria completa das eleições presidenciais passadas e de expor as arbitrariedades e o caos da gestão governamental. Enquanto outros pensam que com a violência o que o governismo pretende é ocultar o aprofundamento de sua ineficiência, particularmente visível no aumento dos homicídios, na inflação e na carestia de alimentos no país; a repressão e encarceramento de líderes opositores, como o general Antonio Riverol; e as ameaças a mais de 4.000 empregados públicos suspeitos de não ter votado em Nicolás Maduro nas eleições presidenciais.
Também uma estratégia bem planificada para que os deputados opositores se retirem da AN, como fizeram em 2005, e assim deixar o espaço livre ao chavismo para escolher uma nova diretora do CNE. Outros explicam a ofensiva como uma derivação das divisões internas existentes, ainda que ainda ocultas, dentro do chavismo sem Chávez que agora (des) governa o país.
Um ou outro, ou todos estes fatores podem explicar a descomunal agressão no Parlamento. No entanto, o mais importante a se levar em conta é que a mesma, junto a muitos outros atos de agressão e repressão governamental das recentes semanas contra da oposição, deixa em evidência várias realidades: que o “novo” chavismo no poder continuará na linha de radicalização pautada com a liderança cubana, e que a decomposição à qual chegaram o chavismo e a democracia venezuelana é altamente perigosa. Uma situação que, se continuar, bem poderia derivar em uma espécie de guerra civil ou em um golpe de Estado militar abertos, porque hoje ambos existem de forma sobreposta.
Uma situação de tal magnitude é a que deveria produzir uma participação imediata de organismos multilaterais como a OEA ou de um grupo de amigos internacionais que sirvam de mediadores no conflito e que garantam à sociedade venezuelana novas eleições realmente justas e transparentes. Sem novas eleições, não haverá paz, nem democracia, nem estabilidade, nem governabilidade possíveis na Venezuela.
Tomado de INFOLATAM
Traduzido por Infolatam |
Escrito por Indicado en la materia
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Jueves, 09 de Mayo de 2013 09:05 |
Por Yoani Sánchez.-
Na quinta-feira passada estive em Havana mesmo sem ter saído de Madri. Graças à guitarra de Boris Larramendi dei um pulinho na Ilha. Um breve – mas intenso – regresso por meio de acordes e boa música. Num lugar da capital espanhola um grupo de amigos se encontrou alguns formados pela Faculdade de Artes e Letras, como também antigos espectadores de cada evento musical que ocorreu em Cuba nos anos noventa. Senti-me em casa, pois exatamente na sala do nosso apartamento tivemos uma daquelas reuniões das quais tínhamos recordado na última noite. Evocamos nossa infusão de “caña santa” e aquela pitada de açúcar com que recuperávamos as energias depois de subir com as bicicletas pelas escadas por 14 andares. Porém, sobretudo, rememoramos as boas canções que ali eram escutadas, o espaço de liberdade que conseguíamos criar por algumas horas ao menos.
Além dos estribilhos e do arroz com feijão desfrutei especialmente do reencontro com estes compatriotas. Muitos deles dedicam-se, contudo, a abrir caminho numa Espanha estremecida pela crise econômica e pelos questionamentos políticos. Alguns desempregados, outros ilegais, vários com filhos nascidos aqui que não conhecem o país dos seus pais; todos incertos sobre o que ocorre em Cuba. Boris cantou até ficar rouco, as palmas das mãos ficavam roxas de acompanhá-lo com aplausos e – depois da meia noite – o humor surgiu, as piadas nos uniram.
Numa parede uma televisão mostrava imagens gravadas nas ruas de Havana. O malecón e a esquina de 23 com L ficavam como fundo audiovisual que acompanhava nossa guaracha* improvisada ao redor das mesas. Num momento percebi que aquela gravação na tela era de uma câmera de segurança policial. De modo que ali estava aquele material de vigilância filtrado e convertido em mero vídeo de entretenimento num espaço recreativo. A banalização do olho oficial, o controle convertido em informe frívolo da cotidianidade. Porém nem sequer isto nos distraiu do mais importante que estava ocorrendo naquela sala: a confluência. Estávamos encontrando o ponto comum depois de uma longa travessia e de uma separação prolongada. Éramos mais livres do que em qualquer reunião em Havana e não obstante continuávamos sendo o fruto de todas aquelas reuniões em Havana. Bendito passado que nos esperou nesta manhã.
* Guaracha é um gênero de música popular cubana de tempo rápido com letras. O mundo tem usado esta interpretação ao menos desde o século 18 até inícios do século 19. Guarachas eram tocadas e cantadas em teatros musicados e em salões populares. Elas se tornaram parte integral do teatro cômico Bufo na metade do século 19. Durante o final do século 19 e inícios do século 20 a guaracha foi a música favorita nos bordéis de Havana. A guaracha sobrevive hoje em dia nos repertórios de algumas músicas narrativas, conjuntos e Big bands no estilo cubano.
Tradução e administração do blog em língua portuguesa por Humberto Sisley de Souza Neto |
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A vida de Capriles e o poder de Maduro pendem por um fio |
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Martes, 30 de Abril de 2013 08:52 |
Por Carlos Alberto Montaner.-
Na Venezuela, Íris Varela, Ministra de Assuntos Penitenciários, uma jovem e gordinha advogada de olhar feroz e verbo incendiário, advertiu que já tem preparada a cela para prender Henrique Capriles. Jurou de pés juntos.
Não contente em atacar o líder da oposição venezuelana, a quem acusou sem provas de consumir alucinógenos e ser o autor intelectual dos nove assassinatos e 78 feridos, entre eles o deputado anti maduro William Dávila, severamente lesionado dentro do próprio parlamento pelos chavistas; de passagem insultou o idioma alegando que o líder dos democratas tem olhos “puyúos”.
Não tenho a menor ideia do que é um olho “puyúo”, mas suponho que deve ser algo tão terrível como o próprio olhar da senhora Varela enquanto faz suas acusações. Convido os leitores desta coluna a buscarem sua intervenção no YouTube. É como a menina do exorcista, mas notavelmente crescidinha em todas as direções.
De acordo com a ameaça da Ministra, o primeiro passo é meter Henrique Capriles na prisão por pedir a recontagem eleitoral. A quem se lhe ocorre suspeitar desse governo que respeita a lei? Imperdoável.
Imagino-me que o segundo passo será que outro preso o assassine no meio de uma das frequentes brigas tão comuns nos presídios da senhora Varela. Já se sabe que nas ruas de Caracas a vida vale muito pouco, mas dentro das prisões venezuelanas não vale absolutamente nada.
Por que a perseguição a Capriles e, em geral, aos dirigentes da Mesa de Unidade Democrática (MUD)? É muito simples: na Venezuela todos, governo e oposição, sabem que Henrique Capriles ganhou as eleições por uma claríssima margem, depois violada descaradamente pelas manipulações eletrônicas, como supõem alguns, ou pelo simples “arrebate” clássico da pior tradição latino-americana, como alegam outros.
Em todo caso, o que está claro é que Nicolás Maduro perdeu. E perdeu, entre outras razões, porque é muito difícil que a maioria de qualquer sociedade respalde um grandalhão meio tolo que fala com os passarinhos e faz campanha com um ninho na cabeça. É verdade que a Venezuela parida por Chávez é como um grande circo, mas nem tanto.
A reação da senhora Varela, de Diosdado Cabelo, do Almirante Diego Molero e do resto do grupo, é a do ladrão surpreendido roubando dentro da casa: tem que matar para poder escapar. Não era esse seu propósito inicial, mas deve cometer um crime maior para apagar as impressões de outro delito menor.
Por isso, Henrique Capriles e seu estado maior cancelaram a marcha do dia 17 de abril. Não queriam dar a oportunidade ao governo de assassinar e acusar a oposição de tê-lo feito, e decretar um estado de comoção social que lhe serviria de álibi para eliminar as já raquíticas proteções constitucionais que subsistem no ferido ordenamento jurídico do país.
Capriles e seu meio temiam o que se conhece como “a estratégia Reichstag”. Em 27 de fevereiro de 1933 ardeu o parlamento alemão e Hitler, depois de acusar sem provas os comunistas e lançar mentiras nada fundamentadas sobre os judeus, pediu para que se suspendessem as garantias constitucionais e exigiu um decreto que lhe permitisse governar de acordo com o seu desejo. A partir desse ponto o nazismo pôs-se em marcha de maneira imparável.
“El Flaco” (Capriles) fez bem ao renunciar à falsa auditoria que desejavam lhe impor. O caminho da impugnação total das eleições tem poucas probabilidades de chegar a um bom porto, mas pode manter a vigência do protesto por mais tempo. Já há análises estatísticas que demonstram a fraude fidedignamente. Há que divulgar o que realmente ocorreu.
É possível, claro, que os ladrões, pegos com as mãos na massa, se não podem matar, tentem pactuar uma saída que lhes garanta a carteira e a vida. Como diz o jornalista Rafael Poleo, sempre muito bem informado, que o homem para gestar esse arranjo é José Vicente Rangel. Não sei, mas o ilegítimo governo de Nicolás Maduro está a um fio. Como a vida de Henrique Capriles.
Traduzido por Infolatam
Tomado de INFOLATAM
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Escrito por Indicado en la materia
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Domingo, 21 de Abril de 2013 10:48 |
Por Yoani Sánchez.-
Damos um rosto para cada cidade, uma personalidade para cada lugar. Camagüey me faz imaginar uma senhora sóbria e de boa linhagem. Frankfurt exibe o cabelo punk e uma gravata que brinca, Praga porta uns olhos azuis e o sorriso assimétrico daquele jovem que cruzou – por apenas um segundo – o meu caminho. Por seu lado Lima tem um rosto indescritível, porém coberto de poeira. O pó de Lima rodeia e pousa em torno de tudo. Sobrevoa as escarpas que abruptamente se abrem até um mar que parece muito frio para os caribenhos e muito agitado. Partículas diminutas de terra e areia que grudam no corpo, a comida e a vida. Pó sobre as frutas da selva, sobre o ceviche recém servido. Pó enfiado no “pisco sour” que deixa o paladar com desejos de mais e também com desejos de nunca mais. Uma capa dourada, irreal que gruda nos pára-brisas dos automóveis e no vendedor de jornais que desafia a luz vermelha do sinal para vender sua mercadoria antes que anoiteça. O pó em que todos terminarão depois do dia final, porém que Lima nos adianta em vida.
Lima me pareceu uma garota de pele cobreada. Reservada, com algo deste mutismo misterioso dos que vivem na serra. Além disso, tem mãos que aliviam. Pois em Lima recuperei a voz e não é uma metáfora. Cheguei vencida por mais de cinqüenta dias de viagem intensa, afônica e com febre. Fui recuperada, vestida por meus amigos e com a energia recobrada por ver uma cidade que já não cabe em si mesma. Mergulhei os pés no pacífico pela primeira vez, subi nas colinas da vila de El Salvador para ver a gente conquistando terreno na aridez do solo e a pobreza. Também estive no centro histórico, com suas Igrejas, suas ofertas para turistas e suas procissões religiosas. Porque Lima é um sem fim de cidades, algumas delas caprichosamente superpostas sobre as outras. É como uma jovem cujo corpo cresceu muito e suas próprias roupas já não servem. Daí os engarrafamentos no transporte e tantos guindastes erguendo edifícios por todos os lados. Esta cidade tem um rosto formado de pressa, um olho aqui, uma boca acolá, uma frente tirada de outro lugar qualquer; é mestiça, chola, suíça, chilena e espanhola… É muito Lima.
Tradução e administração do blog em língua portuguesa por Humberto Sisley de Souza Neto |
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Como eu tenho dó de ignorantes como você!
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