HAVANA, Cuba — A Virgem da Caridade do Cobre, em peregrinação por Cuba, chega neste domingo a Havana, onde percorrerá praças, universidades, hospitais e templos durante 55 dias, numa expressão religiosa inédita desde a vitória da revolução, em 1959.

A imagem da Padroeira de Cuba, que começou a peregrinação no dia 8 de agosto de 2010, estará pela manhã na praia de Baracoa, noroeste de Havana, onde será recebida pelo cardeal Jaime Ortega, responsável por um diálogo com o governo comunista que permitiu a libertação de presos políticos.

"Na praia de Baracoa, o bispo de Pinar del Río (Jorge Serpa), faz a entrega da imagem ao cardeal Ortega", explicou o porta-voz da Arquidiocese de Havana, Orlando Márquez, à AFP.

Ortega dirige na noite desta sexta-feira uma mensagem incomum à população sobre a chegada da Virgem, como reflexo do bom momento das relações entre o governo e a Igreja Católica, que foram conflitivas no passado.

De Baracoa, a imagem será levada diretamente à Escola Latino-Americana de Medicina, onde estudam 10.000 alunos de 29 países, inclusive dos Estados Unidos.

A Virgem percorrerá diferentes pontos da capital até o dia 30 de dezembro, na última etapa de sua primeira peregrinação nacional desde que foi instaurado o governo revolucionário, em 1959.

Estão entre os locais a serem visitados a Universidade Politécnica, a histórica escada da Universidade de Havana, os hospitais Ameijeiras, Fajardo, Oncológico, Neurológico e Psiquiátrico, e a prisão Combinado del Este, a maior de Cuba.

Também visitará, no sábado 12 de novembro, a igreja de Santa Rita, no setor residencial de Miramar, onde assistem missa aos domingos as opositoras Damas de Branco.

A Virgem cruzará a baía de Havana de lancha para visitar o bairro de Regla, baluarte das crenças de origem africana.

As procissões religiosas, proibidas em Cuba na década de 1960, foram restabelecidas por ocasião da visita do Papa João Paulo II em 1998, quando o então presidente Fidel Castro e a hierarquia católica começaram uma fase de aproximação.

Em Cuba, 15% dos 11,2 milhões de habitantes pratica alguma religião; 15% se dizem ateus e os demais criaram formas religiosas simbólicas mestiças, principalmente em fusões entre o cristianismo e cultos de origem africana.

Os cubanos identificam a Virgem com Oxum, um dos orixás iorubas.

De Francisco Jara (AFP)