O processo decorreu na Florida, onde esta terça-feira a juíza Beatrice Butchko deu como provado que Gustavo Villoldo foi torturado por agentes cubanos na ilha durante cinco dias. Villoldo conduziu às tropas bolivianas à detenção e morte de Che Guevara. O tribunal deu-lhe ainda razão nas várias tentativas de assassinato de que diz ter sido alvo e na acusação de expropriações à sua família, em 1959.

A conclusão da sentença é feita em numerário: o Estado cubano está obrigado a indemnizar Villoldo em 2,8 mil milhões de dólares (cerca de 1,94 mil milhões de euros). O seu advogado, Andrew Hall, sublinha que o valor desta indemnização é superior a todos os outros anteriormente concedidos por tribunais civis norte-americanos contra Cuba.

No entanto, a sentença dificilmente será cumprida. Além de só estarem cativados nos EUA cerca de 200 milhões de dólares em activos cubanos (e o governo de Raúl Castro não cederia a pagar o resto), falta ainda a decisão de um tribunal federal. E é possível que, nessa fase do processo, a sentença seja deixada cair.

Villoldo tem essa experiência. Foi o que aconteceu em 2009, quando também um tribunal da Florida condenou o Estado cubano, acusado de motivar o suicídio do pai do antigo espião da CIA, a pagar ao queixoso uma indemnização de mil milhões de dólares. O tribunal federal acabou por anular a sentença, por não ter sido dada oportunidade ao governo de Cuba de recorrer na fase de arbitragem.

A história de Gustavo Villoldo inclui outro episódio recente, que cruza Cuba e dinheiro. Aconteceu em 2007, quando o cubano exilado decidiu leiloar uma mecha de cabelo de Che Guevara, que colheu em 1967, nas montanhas da Bolívia onde o icónico revolucionário argentino foi executado. Rendeu-lhe cerca de cem mil dólares (69 mil euros), pagos por um único comprador do Texas.

Gustavo Villoldo nasceu em Cuba há 72 anos, mas deixou a ilha há mais de 50. Exilou-se nos EUA, depois de as forças revolucionários de Fidel Castro tomarem o poder. Mais tarde, integrou os quadros da CIA e ajudou a capturar Che Guevara, na Bolívia. Agora, procura ser indemnizado pelo Estado cubano, por tortura e expropriações. Um tribunal norte-americano deu-lhe razão.