Uma onda de indignação fez-se sentir ontem em Havana, um ano depois da morte de Orlando Zapata Tamayo, o prisioneiro político cubano que não resistiu ao fim de 85 dias de greve de fome.

Zapata morreu a 23 de Fevereiro de 2010, no Hospital Hermanos Almeijeiras, com 42 anos, depois de quase três meses em protesto pelas condições na prisão e pelo seu estatuto de preso político.

“Um crime premeditado” foi como as forças dissidentes caracterizaram a morte de Orlando Zapata Tamayo, acusando o Governo cubano de ter permitido que levasse o seu protesto até às últimas consequências.

Com uma vigilância policial apertada, o dia do primeiro aniversário da morte de Zapata ficou marcado por actos de protesto, detenções e vários pequenos incidentes em diversas povoações de Cuba. “Temos confirmadas pelo menos 46 detenções de curta duração e cerca de 50 intimações em residências nestes últimos dias”, afirmou à AFP Elizardo Sanchez, dirigente da Comissão Cubana de Direitos Humanos (uma organização ilegal mas tolerada).Entre os detidos esteve Guillermo Fariñas, o dissidente cubano que durante quatro meses esteve em greve de fome, e que ganhou no ano passado o Prémio Sakharov para a Liberdade de Expressão.

Já na véspera do aniversário as autoridades cubanas tinham iniciado um forte operativo de vigilância em várias povoações e cidades do oeste da ilha e, em especial, em Banes, a terra natal de Zapata.

O aniversário da morte do dissidente foi também celebrado pelas chamadas Damas de Branco, mães e mulheres de presos políticos cubanos, que se reuniram em casa da sua líder, Laura Pollan. De acordo com a AFP, cerca de 200 manifestantes pró-governo terão vaiado as comemorações, empunhando bandeiras nacionais.

Com algumas dezenas de familiares, Raina Luisa Tamayo, mãe de Orlando Zapata, e que havia sido também ela detida dias antes, aproveitou o dia para colocar flores na campa do filho.

O “caso Zapata” levou a que, no ano passado, opositores de todas as tendências denunciassem o “crime” do regime de Raúl Castro, sublinhando que a morte ocorria dois anos depois de ter assumido a presidência de Cuba. Apelavam à libertação dos presos políticos. Em Julho, Castro comprometeu-se a libertar 52 deles. Vários têm vindo a ser libertados, ao abrigo de um acordo entre o Governo e a igreja católica cubana.