Para o economista e dissidente cubano Óscar Chepe, a prisão da blogueira Yoani Sánchez foi uma tentativa frustrada do governo cubano de desviar as atenções do julgamento do espanhol Ángel Carromero.

O GLOBO: Qual é a representatividade de Yoani Sanchez em Cuba?

Óscar Chepe: No exterior, ela é o novo rosto da dissidência, mas a maioria dos cubanos não tem internet. Aqui, ela se tornou mais conhecida pelos comentários da imprensa oficial, que a acusa de ser agente do imperialismo. A população se interessa por tudo, mas, no quadro em que vivemos, prioriza a sobrevivência.

O que motivou a prisão da blogueira?

Óscar Chepe: Isso é inexplicável. O governo acabou dando mais propaganda a Yoani e criando um novo escândalo internacional. Muitas vezes a lógica da repressão é incompreensível. A imprensa internacional está aqui para o julgamento. Os jornalistas independentes daqui não recebem autorização de ninguém. É uma ação arbitrária. Yoani é uma pessoa pacífica. A única possibilidade é que o governo esteja querendo desviar a atenção do julgamento de Carromero. Mas seria outro equívoco, Carromero não perderá uma linha no noticiário internacional porque os dois casos estão relacionados.

O blogueiro pró-governo Yohandry Fontana diz que ela foi presa porque queria fazer um ‘show midiático’ em Bayamo...

Óscar Chepe: Ela foi como jornalista, como colaboradora do “El País”. Este senhor é um agente da segurança do Estado. Ela tem que ter direito a ter sua própria opinião, em todo o mundo funciona assim, deveria ser possível também em Cuba.

Qual é o impacto da política de detenções temporárias sobre a dissidência?

Óscar Chepe: Nenhum. A essência da dissidência é o mal-estar do povo. E a intelectualidade protesta cada vez mais. Essa política de prisões temporárias serve para evitar que os detentos sejam classificados como presos políticos e melhorar a imagem do regime no exterior. Com as reformas, o governo só estimula empresas-bonsai — pequenas e sem peso econômico. A maioria dos jovens quer ir para Miami. Acabou assim a revolução? Somos menos soberanos e dependemos da Venezuela para tudo. É insustentável.