HAVANA - O julgamento do espanhol Ángel Carromero, acusado pelo acidente de carro que causou a morte do dissidente cubano Oswaldo Payá, começou nesta sexta-feira na cidade Bayamo, a cerca de 800 quilômetros de Havana. Carromero, de 27 anos e dirigente da juventude do Partido Popular de Madri, foi indiciado por homicídio culposo pelas mortes de Payá e do também dissidente Harold Cepero, quando o veículo que dirigia se chocou contra uma árvore em 22 de julho.

- Sinto profundamente - disse Carromero, segundo a agência Efe. - Perdi muitas coisas por esses tempos. Mas sei que a minha dor não tem comparação com o sentimento das famílias dos que morreram.

A promotoria pede sete anos de prisão para o réu. O julgamento está sendo realizado no Tribunal Penal Provincial Popular de Granma, na cidade de Bayamo, próxima do local do acidente. O veículo onde estavam os ativistas sofreu o acidente no quilômetro 724 da estrada que liga as cidades de Las Tunas e Bayamo, no mesmo estado. O jovem político espanhol está preso desde então em um presídio em Havana, onde aguarda o fim de seu processo.

No carro também viajava o político sueco Jens Aron Modig, que foi detido inicialmente pelas autoridades e depois voltou para seu país. Segundo Modig, ele estava dormindo durante o choque e disse que não se lembrava muito bem do ocorrido.

As autoridades cubanas atribuem a responsabilidade pelo acidente a Carromero, pois, segundo uma perícia do governo, o carro estava acima do limite de velocidade. Em um vídeo divulgado logo após sua detenção, o espanhol admitiu que perdeu o controle do veículo mas não especificou a que velocidade dirigia.

O caso de Carromero está sendo tratado com todo o cuidado pela diplomacia de Cuba e Espanha. Na última Assembleia Geral das Nações Unidas, ministros e diplomatas dos dois países se reuniram para discutir o assunto. Segundo a agência Europa Press, o chanceler cubano disse que fechou um acordo com o ministro do Exterior da Espanha para que o julgamento de Carromero aconteça em um período “razoavelmente curto de tempo”. O embaixador espanhol em Cuba, Tomas Rodriguez Pantoja, está presente na audiência desta sexta.

Em Bayamo, uma operação policial foi iniciada para impedir manifestações de ativistas que acusam o governo de ter envolvimento na morte de Payá. Na ação, a ativista e colaboradora do jornal “El País” Yoani Sanchéz foi presa. Ela seguia para o tribunal para tentar assistir à audiência a trabalho, junto ao marido e mais um jornalista. Como não estava credenciada pelo governo cubano, Yoani não pode entrar no tribunal e acabou sendo detida.