ENTREVISTA CON EL PADRE CONRADO DESDE BRASIL, DONDE COMPARTE LA VISITA DEL PAPA FRANCISCO AL GIGANTE SUDAMERICANO Imprimir
Escrito por Indicado en la materia   
Viernes, 26 de Julio de 2013 01:35

Una de las principales voces críticas al régimen castrista dentro de la Iglesia Católica cubana, el padre José Conrado Rodríguez, adopta una postura de conciliación al hablar de la transición que desea para su país: defiende el diálogo político, sin excluir quien ya está en el poder.

Dado Galvão recibió en Brasil al Padre Conrado y le colocó la cinta del Señor del Bom Fim

Cercano a varios disidentes, por quienes ya fue incluso premiado debido a sus posiciones, el religioso vino a Rio de Janiero para la Jornada Mundial de la Juventud (JMJ). Al diario O'GLOBO, dijo haber sido amenazado de muerte por el gobierno (castrista) en los años 1990, cuando escribió una dura carta abierta a Fidel Castro, y se mostró a favor de una Iglesia más firme en las cuestiones de derechos humanos. “No tengo voluntad de callarme. Se que estoy pidiendo algo justo”, afirma.

Ud. podrá encontrarse con el Papa? Qué gustaría decirle?

Un representante del alcalde de Miami me dijo que estaba intentando ajudarme com eso, pero vamos a ver. Primeiro, le diría cuanto lo amamos. Cuando se está en la posición del Papa, hay muchas cruzes a cargar. Por eso, el cariño de las personas es fundamental. Segundo: que siga por ese camino. Que no le tema a nadie, que siga por el camino de la renovación de la Iglesia por medio del amor, pero también con firmeza. Y tercero, le pediría una bendición para Cuba y para todos los cubanos. Sabe, Cuba no es solamente la isla; hay más de dos millones de cubanos fuera de ella. Que no se olvide de aquellos que por 54 años sabem de las dificultades, de las persecuciones, del desprecio, de no estar en igualdad de condiciones - somos ciudadanos de segunda categoria. Me gustaría que rezara también por los que están en el gobierno. Y también se lo pido a Dios. Hubo mucho derramamiento de sangre: los que murieron intentando llegar a la Florida, los que mureiron en los pelotones de fusilamiento, en las prisiones. No es preciso derramar la sangre de otros cubanos para encontrar el camino de la verdad y del amor.


Como Ud. ve la relación entre el Vaticano y Cuba?

Ya hay un diálogo, que ha mejorado. Pero el problema es más profundo. El gobierno no tiene que reconciliarse solamente con la Iglesia. Necesita reconciliarse con el pueblo, con las personas que no son comunistas, no quieren ser comunistas y nunca seran comunistas -y que son la mayoría. Tiene que aprender a ser el gobierno de todos. Mientras no lo sean, es un gobierno que, de alguma forma, oprime nuestro pueblo.

 

Ud. mantiene contacto con activistas de la oposición. Cual sería el camino para una eventual transición?

La primera cosa sería el diálogo. La oposición pide eso, la Iglesia también. Los que participan de la oposición en Cuba rompieron la barrera del miedo, que muchos cubanos todavía no rompieron. Diría que la mayoria del pueblo cubano no piensa como el gobierno y quiere un cambio profundo en el país. El pueblo todavía no sabe exáctamente como llegar ahí, pero es lo que desea. Más temprano o más tarde, el gobierno tendrá que enfrentar isso.


Dado Galvão, Padre Conrado e jovens da Juventude Missionaria que participam da Jornada Mundial da Juventude.


(portugués)

O governo de Raúl Castro fez algumas reformas no sistema migratório e na economia. São mudanças reais?

São mudanças tímidas, que beneficiam uma pequena parte da população. Alegro-me que essas mudanças tenham ocorrido, mas não são as fundamentais, as que fazem falta ao país. Cuba está fechada não só em relação a outros países, mas em relação a si mesma. Cuba deve abrir-se para o mundo, mas o mundo também deve abrir-se para Cuba. Há um tema fundamental para muitos países, o dos direitos humanos em Cuba. A defesa dos direitos humanos não é propriedade do Estado e não tem fronteiras. Não devo defender os direitos humanos apenas em Cuba, mas no mundo todo.


O senhor é otimista em relação a outras mudanças em Cuba neste momento?

Talvez otimista não seja a palavra, mas sim aberto e desejoso. E farei de tudo para que esse caminho seja aberto. Estou seguro de que isso será bom para governados e governantes. Os direitos retirados da população se concentram nas mãos de poucos; há pessoas que têm mais direitos que o povo. É necessário compartilhar as responsabilidades, respeitar as liberdades, respeitar os direitos do povo. Aí sim poderemos construir uma pátria como a que José Martí queria: uma pátria com todos e para o bem de todos, sem exclusões. De todos, não de poucos, não dos que pertencem a um só partido, o que governa, à mesma ideologia.


Mas o senhor crê que essa ausência de igualdade seria superada em um sistema capitalista?

Entendo que do ponto de vista econômico se fale de socialismo e capitalismo. Mas vou um pouco mais atrás: para mim, a discussão é entre democracia e totalitarismo. Em Cuba, ainda há a mentalidade totalitária do governo cubano. É necessário superar essa mentalidade para que haja uma verdadeira democracia na qual as pessoas tenham domínio de seu dinheiro e suas propriedades. Isso faz parte também. Mas o que peço fundamentalmente, numa sociedade aberta, é que as pessoas tenham seus direitos garantidos e assumam a responsabilidade por seu presente, por seu futuro, que tenham a possibilidade de lutar em liberdade. Não nego o direito dos marxistas de lutar por uma Cuba melhor, não os excluo por nada; mas que não nos excluam mais, os cubanos que não são marxistas e não querer ser.


O senhor foi transferido para a região de Cienfuegos, a 600 Km de Santiago de Cuba, sua antiga paróquia. Há algo político nessa mudança?

Sinceramente, não sei dizer. Acredito que, bem... Na Igreja, as coisas acontecem assim. Mas o antecedente é que sou um padre incômodo. Talvez o bispo quisesse descansar um pouco de mim. Mas não parece que o governo tenha pedido isso expressamente. Se fizessem isso, teriam dito: ‘De maneira alguma! Estão se metendo nos assuntos da Igreja.’ Mas o bispo sabia que o governo me queria fora da paróquia. O salão paroquial estava prestes a desabar, e a funcionária do governo responsável por autorizar a obra disse ao bispo: ‘Enquanto José Conrado estiver lá, não daremos a autorização’. Mesmo que caísse na cabeça das pessoas! Uma coisa é discordarem de mim, mas não posso aceitar que neguem às pessoas o direito de estar em segurança. Nós temos o teto há anos. Insisti nesse assunto com o bispo várias vezes.


Nos últimos meses, o primeiro vice-presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, se reuniu com representantes protestantes e iorubás. Já houve algum convite para a Igreja Católica? O senhor vê essas conversas como algo positivo?

Vejo tudo que seja diálogo como algo positivo. Não sei se houve convite à Igreja Católica porque estou viajando há um mês, mas algo deve estar a caminho. O governo se deu conta que a imensa maioria do povo tem uma fé religiosa.


O senhor diz ter sofrido ameaças de morte por parte do governo nos anos 1990. O que aconteceu?

Numa missa, fiz uma homilia falando da crise dos balseiros e do Maleconazo (onda de protestos em Havana contra o governo), em 1994. Logo depois disso, avisei que leria uma carta aberta a Fidel Castro, muito dura. O silêncio foi impressionante... Mas depois da leitura fui muito aplaudido pelos fiéis. No ano seguinte, a rádio Martí (baseada em Miami e financiada pelos Estados Unidos) leu a carta, e aí sim o governo cubano ficou irritado. Fiquei sabendo por meio de um amigo que o governo estava tramando minha morte. Iriam forjar um acidente de carro. Então, liguei para um advogado amigo em Miami e pedi para ele me gravar relatando a ameaça do governo e que, se algo acontecesse comigo, a declaração deveria ser tornada pública. Então, uma semana depois, estava na casa de um amigo e uma liderança local do Partido Comunista Cubano me encontrou. Disse que ouviu de um superior: ‘Se encontrar o padre na rua, não estenda a mão, dê um abraço. O que ele pedir, atenda’. A mensagem era que não deveriam me causar problemas.


A Igreja Católica e o Papa deveriam adotar uma postura mais política em relação a Cuba?

Darei a você a resposta que o Papa João Paulo II deu quando visitou o campo de concentração nazista de Auschwitz. O Papa falou das atrocidades ali cometidas, e um jornalista perguntou se o Pontífice não estava entrando na política ao falar disso. João Paulo II respondeu que falar dos direitos humanos não é falar de política; é a essência do Evangelho. Penso que a Igreja pode e deve ser mais firme nestas questões, a começar pela Igreja cubana. Principalmente para evitar males maiores. O povo cubano está exasperado, e um povo assim pode fazer qualquer coisa. Não podemos permitir que as coisas sigam por este caminho.


Tomado de RIUS.COM.BR

Fonte com fotos: Edição Impressa O GLOBO

Última actualización el Domingo, 28 de Julio de 2013 10:54