Lula recua sobre Holocausto, mas sem se desculpar Imprimir
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Sábado, 24 de Febrero de 2024 23:54

Por Tales Faria.-

"Não tentem interpretar a entrevista que dei na Etiópia, leiam a entrevista, em vez de ficar me julgando pelo que disse o primeiro-ministro de Israel." Foi isto que pediu o presidente Lula durante evento nesta sexta-feira (23) no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.

A verdade é que o mandatário de Israel resolveu surfar naquela declaração de Lula durante a entrevista de Adis Abeba.

Benjamin Netanyahu usou a fala de Lula para criar uma cortina de fumaça capaz de encobrir as fortes críticas internacionais que vem sofrendo - até em seu país - pela matança que seu governo promove sobre civis na Faixa de Gaza… - Veja mais em https://noticias.uol.com.br/colunas/tales-faria/2024/02/24/lula-recua-sobre-holocausto-mas-sem-se-desculpar.htm?cmpid=copiaecola


"Não tentem interpretar a entrevista que dei na Etiópia, leiam a entrevista, em vez de ficar me julgando pelo que disse o primeiro-ministro de Israel." Foi isto que pediu o presidente Lula durante evento nesta sexta-feira (23) no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.

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A verdade é que o mandatário de Israel resolveu surfar naquela declaração de Lula durante a entrevista de Adis Abeba. Benjamin Netanyahu usou a fala de Lula para criar uma cortina de fumaça capaz de encobrir as fortes críticas internacionais que vem sofrendo - até em seu país - pela matança que seu governo promove sobre civis na Faixa de Gaza.

 

Ele disse que as palavras de Lula eram vergonhosas e graves, que o brasileiro comparou a atuação de Israel ao Holocausto nazista e a Hitler e que, portanto, "cruzou a linha vermelha".


No evento desta sexta-feira, Lula não citou a matança de judeus na Alemanha mas reafirmou (abre aspas): "O que o governo de Israel está fazendo contra o povo palestino não é guerra, é genocídio, porque está matando mulheres e crianças."

Então fui atrás do que Lula pediu nesta sexta-feira: para vermos exatamente o que ele havia dito naquela entrevista de Adis Abeba. Bem, ele falou o seguinte. Abre aspas novamente: "O que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus".


 

Vamos por partes: o que está existindo na Faixa de Gaza é uma matança generalizada contra a população palestina na região.

É genocídio? Pode não ser, na medida em que não se está tentando exterminar um povo, mas retirá-lo de uma região. A quantidade de mortos, no entanto, é comparável à de alguns eventos considerados genocídio pelos estudiosos.


 

Por exemplo o extermínio de 80% do povo Herero e 50% do povo Nama, entre 1904 e 1908, é considerado o primeiro genocídio do século passado. Essas sociedades foram exterminadas pelas forças alemãs do Segundo Reich, no território da atual Namíbia, no sudoeste africano.

Aproximadamente, 65.000 Herero e 10.000 Nama foram mortos naquele genocídio. Na Faixa de Gaza, já morreram 30 mil pessoas e é bem possível que esse número aumente, se Netanyahu não for detido.


Mas, mesmo que não se considere o caso de Gaza como genocídio, o fato é que está ocorrendo ali uma matança generalizada.


 

Isso é inegável, embora também seja inegável que o Holocausto judeu teve proporções gigantescas que fazem não valer a pena a comparação feita por Lula.

E, de fato, embora ele não tenha atacado o povo judeu, nem o judaísmo ou coisa parecida, a verdade é que a simples comparação, devido ao tamanho do evento fere a memória dos Judeus.


Vale lembrar o que disse, nesta quarta-feira, o líder do governo no Senado, o petista baiano Jaques Wagner. Ele citou uma conversa com o presidente Lula em que aconselhou:


 

"Não tire uma palavra do que Vossa Excelência disse, a não ser o final, que, na minha opinião, não se traz à baila o episódio do Holocausto para nenhuma comparação. Porque fere sentimentos, inclusive os meus, de familiares perdidos naquele episódio."

O final a que Wagner se refere é aquele trecho em que Lula afirmou que evento semelhante ao da Faixa de Gaza ocorreu, abre aspas, "quando Hitler resolveu matar os judeus".


É claro que Lula se referia à atitude do Netanyahu, não à dos judeus ou dos israelenses em geral. Mas o fato é que feriu sentimentos, não devia ter feito a comparação.


 

A releitura pedida pelo presidente Lula, então, mostra que ele não atacou os judeus em geral, mas fez de fato a comparação, abrindo espaço para Netanyahu fazer uso político do evento na sua narrativa sobre a matança de palestinos que está promovendo na Faixa de Gaza.

Lula errou, sabe que errou, mas não pode simplesmente se desculpar de joelhos, como cobra o primeiro-ministro de Israel. Está tentando seguir o conselho de Jaques Wagner e apagar o trecho da entrevista em que fez a fatídica comparação. Recuou, mas não recuou.


 

Como velho adepto de frases futebolísticas, para tentar driblar o infortúnio, Lula fez que foi mas não foi. Não sei se chegará ao gol e nem sequer à pequena área. Depois de um drible mal dado, fica difícil um segundo drible.


UOL.COM.BR


Última actualización el Sábado, 16 de Marzo de 2024 11:27