Constrangimento em Cuba Imprimir
Escrito por Indicado en la materia   
Jueves, 25 de Febrero de 2010 10:27

VISITA OFUSCADA

Morte de dissidente político coincidiu com passagem do presidente brasileiro pela ilha comunista

O momento da viagem não poderia ter sido pior para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A morte na prisão do dissidente Orlando Zapata, terça-feira, após uma greve de fome de 85 dias, ofuscou ontem a visita de Lula a Cuba – e constrangeu o líder brasileiro, ao obrigá-lo a ouvir muitas perguntas sobre o incidente e a situação dos direitos humanos na ilha comunista.

Um operário de 42 anos, Zapata era considerado um “prisioneiro de consciência” pela entidade de defesa dos direitos humanos Anistia Internacional e deu início à greve de fome em dezembro, para protestar contra as condições do sistema carcerário cubano. Ele foi condenado a três anos de prisão em 2003, em um processo paralelo ao que levou outros 75 dissidentes (53 dos quais ainda estão detidos em Cuba) a receber penas de até 28 anos. Mas, depois, sua sentença foi ampliada para 25 anos e seis meses de reclusão.

A morte de Zapata desatou uma série de protestos e críticas fora de Cuba e uma onda de repressão dentro do país. A mãe do dissidente, Reina Luisa Tamayo, acusou a ditadura de Raúl Castro de “assassinato premeditado” e pediu ao mundo que exija a libertação dos outros prisioneiros políticos. Segundo a Comissão Cubana de Direitos Humanos e Reconciliação Nacional (CCDHRN), pelo menos 25 pessoas foram detidas na ilha para evitar manifestações. Algumas fontes da oposição cubana falam em até 50 prisões. Os presos políticos em Cuba seriam hoje mais de 200.

A denúncia de Reina foi feita em uma entrevista ao blog Geração Y, de Yoani Sánchez, blogueira que ficou mundialmente conhecida por descrever o duro cotidiano da população da ilha sob o regime dos irmãos Castro. Segundo a mãe do dissidente, seu filho também foi torturado na cadeia. Em visita junto com Raúl Castro ao porto de Mariel – que será reformado pela construtora brasileira Odebrecht e funcionará, no futuro, como terminal de contêineres –, Lula esquivou-se de fazer qualquer comentário sobre a morte de Zapata. Disse apenas que não recebeu uma carta na qual grupos de direitos humanos pediam uma reunião com o presidente brasileiro. Raúl Castro, por sua vez, lamentou a morte do ativista – e responsabilizou os Estados Unidos. Ele disse que a prisão de Zapata seria resultado da relação conturbada entre EUA e Cuba.

– Perdemos milhares de cubanos, vítimas de terrorismo de Estado. Entre mortos, feridos e mutilados são por volta de 5 mil deles, como consequência dessa luta que temos com os Estados Unidos – afirmou.

Depois de passar pelo porto de Mariel, Lula visitou ontem o ex-presidente cubano Fidel Castro, 83 anos, afastado do poder desde julho de 2006 devido a problemas de saúde. De acordo com assessores do Palácio do Planalto, a reunião durou mais de uma hora, e o líder brasileiro encontrou Fidel “recuperado” e “excepcionalmente bem”. Segundo os assessores do Planalto, a situação de Fidel hoje é muito diferente da de outubro de 2008, quando Lula o visitou em um clínica.

Havana
Última actualización el Jueves, 25 de Febrero de 2010 10:32