O marabu, Dichrostachys cinerea, um arbusto espinhoso proveniente da Europa, é o maior símbolo da crise atual da agricultura cubana.
Não se sabe como o Dichrostachys cinerea entrou na ilha, apenas que isso ocorreu já no final do século 19.
Hoje, epidêmico, o vegetal contamina 10% de Cuba, ou 18% das terras agricultáveis -- uma enormidade equivalente à área de um milhão de campos de futebol.
"Onde o marabu invade, não se consegue plantar mais nada, a menos que entrem em ação tratores com braços capazes de arrancar as duras e profundas raízes do solo", diz o agrônomo Carlos F. "Mas os poucos tratores não dão conta."
No domingo passado, em Candelária, em um bairro de 200 famílias, a barraca de António R. exibia apenas uma peça de perna de porco. "Não se traz mais porque não se vende mesmo", disse o açougueiro, expondo a peça sem refrigeração às moscas, na porta de sua casa.
Segundo ele, além dos tratores para arrancar o marabu, falta o combustível. "Desde a queda do campo socialista, o acesso a tais insumos ficou muito restrito", diz. O resultado é desastroso para a economia agrícola, com o consequente abandono dos campos -- e o inchaço das cidades, onde apesar de tudo ainda floresce o turismo incentivado pelo governo.
ASCENSÃO E QUEDA
Até a queda do Muro de Berlim, em 1989, e a derrocada da ex-União Soviética, a economia cubana ancorava-se na agricultura voltada para a exportação.
Nos anos de 1969-70, por exemplo, o Partido Comunista Cubano lançou o chamado "Esforço Decisivo", mobilização à escala nacional com o objetivo de elevar a produção de açúcar na ilha à marca das 10 milhões de toneladas.
A meta não foi atingida, mas bateu-se o recorde mundial. Cuba tornou-se o principal produtor da commodity.
O objetivo era usar a mercadoria para financiar construção civil, aquisição de indústrias e de todos os demais bens de que o país necessitava. Por 30 anos, funcionou.
O colapso da União Soviética e ao mesmo tempo a manutenção do embargo econômico iniciado pelos EUA em 1962, porém, fizeram com que, no início dos anos 1990, a produção agrícola cubana ficasse sem compradores.
"A primeira providência, então, foi liberalizar a economia agrícola", diz Ramón H., docente da Universidade de Havana. "Foi a forma encontrada para dividir com empreendedores privados e cooperativas de agricultores os imensos deficits do setor."
Hoje, se 95% da economia cubana em geral está em mãos do Estado, no setor agrícola, o grau de estatismo cai para 61%, segundo dados do próprio governo.
Cuba ainda produz cana (apenas uma fração dos recordes passados), tabaco e café, mas importa verduras, frutas e proteína animal até para a própria subsistência.
"Sem investimento, sem mão de obra, sem máquinas e equipamentos, o campo transformou-se em território livre para o marabu", resume o professor Ramón H.