'Não existe democracia e respeito a direitos humanos na Venezuela' Imprimir
Escrito por Indicado en la materia   
Sábado, 14 de Octubre de 2017 13:24

As prisões da Venezuela hoje não abrigam somente os delinquentes clássicos, aqueles que roubam, assaltam, praticam sequestros  e cometem assassinatos. Em celas vigiadas por homens das Forças Armadas, um total de 447 detentos despertam a atenção não somente entre aqueles que lhes vigiam, mas também a todo mundo.

AFP

Os que habitam nestas celas são políticos e líderes de movimentos sociais que, na maioria dos casos, são acusados de uma coisa: fomentar manifestações contra o governo de Nicolas Maduro e incitar atos violentos e instabilidade.

 

Destes presos, o principal é o presidente do partido Voluntad Popular, o ex-deputado e prefeito de Caracas, Leopoldo Lopéz. Apontado como a principal liderança da oposição venezuelana, Leopoldo Lopéz está preso desde 2014. A partir de sua prisão, o papel de porta-voz das denúncias mudou para a sua esposa, Lilian Tintori. Conhecida na Venezuela por ter participado de um reality-show, Lilian Tintori dirige uma entidade de defesa dos direitos humanos e dispara contra o atual presidente da Venezuela: “Não é porque vamos às urnas escolher governadores que vivemos em uma democracia. Não existe democracia onde não existe respeito a direitos humanos na Venezuela”.

O TEMPO: “A Venezuela é hoje um dos assuntos mais discutidos no Brasil e, muitos dos brasileiros, afirmam que não querem que o nosso país se torne uma Venezuela. Afinal de contas, este país não é atualmente um bom país para viver?

Lilian Tintori: A situação hoje aqui é de crise humanitária, de violação sistemática de direitos humanos. Não consigo hoje sair do país. Meu passaporte hoje está retido, não querem que denunciemos ao mundo do que está acontecendo aqui. Ademais da política, o que está acontecendo na Venezuela é uma sistemática violação dos direitos humanos. Venezuela é hoje uma ditadura. Não é permitido discordar. Quando se faz isso, te ameaçam, te perseguem, te prendem, como fizeram com Leopoldo Lopéz há três anos. Muitas famílias estão destroçadas porque seus filhos morreram manifestando por um país melhor. São 128 jovens que morreram pela repressão.

Qual o principal problema da Venezuela hoje?

Lilian: É a fome. Não podemos achar normal que famílias tenham que revirar lixo para comer. A inflação também corroído o futuro dos venezuelanos. Mães e avós estão deixando de comer para que seus filhos possam comer. A escassez de alimentos hoje é uma realidade na Venezuela. Não existe comida neste país, em todos os estados, inclusive na Capital. 83% dos venezuelanos perderam peso por não se alimentar. Se ficamos doentes, os hospitais não podem atender porque não há medicamentos para os pacientes. Estão violentando os direitos humanos diariamente, sistematicamente. O desespero chegou a tal ponto que não estão mais cometendo assaltos por um telefone celular, por um relógio. As pessoas estão cometendo crimes para roubar comida. Os venezuelanos não querem mais viver isso. Temos que estabelecer um canal humanitário para resolver isso, e o Brasil tem um papel fundamental neste ponto.

A Venezuela hoje tem presos políticos. Seu marido (Leopoldo López) é um desses presos. Existe violação de direitos humanos as pessoas que estão nas prisões venezuelanos?

O sistema carcerário venezuelano é caótico. Meu esposo já passou por todos os tipos de tortura psicológica, mas esses desrespeito não é somente com os presos políticos. Nos presídios venezuelanos testemunhamos massacres constantes. Este ano, tivemos mais de 30 presos mortos durante uma rebelião. Existe uma máxima que a maneira que o país trata seus presos é a maneira como trata todo o resto. A Venezuela inteira hoje está presa. Presa pela inflação, presa pela repressão, presa pelas sistemáticas violações dos direitos humanos. Nós venezuelanos temos que pedir ajuda aos nossos vizinhos da região, e mais uma vez eu digo: o Brasil tem papel fundamental nisso, por sua importância e tem que estar junto liderando a reação contra esse cenário da Venezuela.

O que é necessário fazer para se resolver para sair desta condição? É somente por uma intervenção externa?

Temos que mudar pela democracia. Leopoldo sempre diz que só existe uma forma: com voto. Nós estamos acostumados a votar. De resolver nossos rumos pelo voto. Mas para isso é preciso existir democracia. Não podemos conviver com trapaças eleitorais. A Constituinte está trabalhando, mas é ilegal. Não houve consulta ao povo para convocá-la. Ela não tem representatividade. É apenas uma  reunião de amigos de Maduro que decidiram que constituintes. É preciso se respeitar a lei. Precisamos resgatar as leis, as instituições, para que os venezuelanos possam escolher livremente o destino deste país. As eleições tem que ser iguais, e mais ainda, precisamos que observadores internacionais qualificados, como a OEA e a União Europeia participem deste processo para garantir a lisura dos resultados.

Em 2015 a oposição conseguiu ampla maioria para a Assembleia Nacional, mas não conseguiu exercer o papel de legislar. Agora, as pesquisas apontam que a oposição vai vencer as eleições de governadores. Existe o receio que também sejam impedidos de governar?

Não podemos dizer que existe uma democracia, porque votamos. Não podemos achar normal que o STJ impeça a Assembleia Nacional de exercer o seu papel. Este regime tem criado um cenário de terror no país. Temos que continuar lutando para restabelecer a democracia na Venezuela. De uma coisa eu tenho certeza: o povo venezuelano já decidiu que é necessário mudar os rumos de nosso país.

OTEMPO

Última actualización el Miércoles, 18 de Octubre de 2017 12:41