Desfile da Chanel em Cuba, o novo "comunismo de boutique" Imprimir
Escrito por Indicado en la materia   
Lunes, 09 de Mayo de 2016 12:11

Che Guevara deve ter se revirado no túmulo na última terça-feira (3), quando as modelos da Chanel desfilaram em Havana sua amada boina numa versão salpicada de paetês ou sua indefectível jaquetinha verde-militar, produzida nos ateliês da marca em Paris.

O final do desfile histórico da Chanel que aconteceu no Paseo del Prado, em Havana  (Foto: Reprodução)

Mas será que Che, um homem sensível à beleza feminina como era, não teria também amolecido de ternura como Fidel, deixando aquelas belas manequins e roupas maravilhosas invadirem sua Cuba? Nos últimos meses, Cuba recebeu o Papa, Obama e os Rolling Stones. Só faltava mesmo abrir as portas para um dos maiores ícones do luxo capitalista, a Chanel, que escolheu a ilha para apresentar sua coleção resort.

 

Afinal, nos anos 30, madames cubanas, como a lendária condessa Revilla de Camargo, costumavam viajar a Paris para encomendar seus vestidos de alta costura com a própria Coco Chanel, um hábito que terminou com a revolução que depôs o ditador Fulgencio Batista no Réveillon de 1959 e expropriou os milionários locais, que fugiram da ilha.

As tops brasileiras Gisele Bündchen e Alice Dellal, a atriz inglesaTilda Swinton e o ator de filmes de ação Vin Diesel chegaram ao desfile no Paseo del Prado a bordo dos coloridíssimos Chevrolets conversíveis locais, que, aliás, apareceram nas estampas de várias roupas. A população local, que na véspera recebeu com festa os primeiros turistas americanos num cruzeiro vindo da Flórida, estava excitadíssima, assistindo a tudo das sacadas dos prédios coloniais. Pessoas que, tempos atrás, foram obrigadas a se vestir de maneira simples e uniforme, para romper com a moda dos “opressores perversos” e que agora parecem ávidas pelas mudanças que finalmente estão chegando ao país, como a brisa que não para de soprar em Havana.

Uma bolsinha imitava uma caixa de charutos, a maioria dos looks tinha pegada masculina com blazers bem cortados, gravatas e chapéus Panamá e os vestidos de noite eram brilhosos, coloridos em tons pastel que lembram as fachadas de Havana. Nas camisetas, lia-se “Viva Coco Libra”, algo que nem fez piscar o neto de Fidel, Antonio, que, como um gentleman, distribuía guarda-chuvas para as visitantes quando uma garoa ameaçou cair. O capitalismo tem seu charme.

A Chanel não só acertou na excelente coleção, que chega às lojas, inclusive às de São Paulo, a partir de novembro, mas também no ineditismo do local escolhido. No dia seguinte, quem desembarcou na ilha foi a trepidante Kim Kardashian, que postou um selfie atrás do outro no Instagram, tudo filmado para o reality-show de sua família. Definitivamente, Cuba jamais será a mesma. É bom visitar antes que abram o primeiro McDonald’s.

EPOCA

Última actualización el Viernes, 13 de Mayo de 2016 12:47