Médica cubana que pediu asilo é outra vítima da ditadura de Cuba Imprimir
Escrito por Indicado en la materia   
Lunes, 10 de Febrero de 2014 08:51

Durante os Jogos Pan-Americanos de 2007, os boxeadores Erislandy Lara e Guillermo Rigondeaux abandonaram a delegação cubana com o intuito de se tornarem profissionais na Alemanha.

Ramona Matos Rodriguez, médica cubana que esta abrigada na sala da Liderança do Democratas, após fugir de Pacajá, no Pará, onde trabalhava no programa Mais Médicos desde outubro (Zeca Ribeiro / Câmara dos Deputados)

Não foi uma fuga qualquer, dessas que acontecem quase sempre que um grupo de atletas ou artistas daquele país viaja ao exterior. A dupla era a joia da coroa cubana no Pan e o boxe divide com o baseball a condição de esporte mais popular da Ilha. Por lá, ser bom boxeador significa estar livre das aflições alimentares do comunismo.

 

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A notícia da fuga levou Fidel a escrever um artigo no Granma declarando que “nos nocautearam com um golpe direto no queixo, faturado com notas americanas”. Duas semanas após, os dois foram capturados numa praia de Araruama. Dado que atletas cubanos no exterior têm seus passaportes retidos pelos comandos das delegações, a dupla estava sem documentos e foi levada presa para a Polícia Federal em Niterói.

Se fosse você a decidir, o que faria com ambos, nesse caso? O governo brasileiro fez o contrário. Deportou-os imediatamente para Havana onde, nos meses seguintes, comeram, em pequeníssimas porções, o pão que o diabo amassou. E foi tudo que comeram. Tendo feito o oposto do que você e eu faríamos, nossas autoridades, por eminentes porta-vozes, asseveraram que ambos estavam arrependidos e que pediram para voltar aos afagos de Fidel. Era uma afirmação tão verdadeira e tão sincera quanto qualquer “Me traíram!” de Lula. Tanto assim que, meses após, ambos tornaram a escapar da Ilha. Hoje exercem sua atividade, como cidadãos livres, nos grandes centros mundiais desse esporte.

No mesmo ano de 2007, o criminoso italiano Cesare Battisti, comunista e terrorista, ladrão e assassino, condenado em seu país por várias mortes, fugiu da França onde estava refugiado. Havia risco de revogação do benefício, o que determinaria sua extradição. Com documentos falsos, Battisti acertou na mosca vindo para o Brasil petista, onde recebeu tratamento de companheiro. Iniciou-se aqui uma longa discussão sobre seu destino. O que faria você, diante do pedido de extradição formulado por país amigo em relação a um criminoso condenado em várias instâncias? Principalmente se você fosse a autoridade que antes enviara dois inocentes de volta para Cuba? Pois é, o governo brasileiro, enrolou, enrolou e fez o oposto, contrariando, inclusive, a posição recomendada pelo Conselho Nacional de Refugiados e a decisão do STF. Concedeu-lhe refúgio e criou uma encrenca com a Itália. Battisti, hoje, trabalha na CUT.

Temos, agora, o caso da cubana que abandonou o programa Mais Médicos e está sob proteção da bancada federal do DEM. O que faria você? Acolheria o pedido de uma mulher que rompeu o silêncio da omertà e revelou a máfia cubana exportadora de médicos? Até quem conhece, como eu, a realidade daquele país e sabe que é pura balela a “generosa solidariedade cubana”, se surpreende com a revelação da doutora Ramona. Ela provou ser contratada não pela Organização Pan-Americana de Saúde (como se contava por aqui), mas por uma empresa, uma Sociedade Anônima, criada em Cuba no ano de 2011, que abocanha 76% do valor pago pelo Brasil. Quem são os sócios dessa empresa? Nada foi dito.

Por enquanto, tudo indica que o governo brasileiro, mais uma vez, fará o contrário do que você e eu faríamos. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, já antecipou que fora do programa Mais Médicos ela terá seu visto de permanência revogado, presumindo-se que o avião no qual deixará o Brasil terá seu nariz apontado para o Caribe.

A mais insensível das criaturas humanas reconhecerá na situação dos médicos cubanos atuando no Programa Mais Médicos uma condição de escravidão. Quem se recusa a admiti-lo sonha com uma sociedade onde, em vez de o Estado existir para as pessoas, as pessoas existem para o Estado. Por isso, num regime comunista, um atleta é um atleta do Estado. Um médico é um médico do Estado. E ambos têm que fazer o que o Estado lhes determine. Bom, isso a gente sabia. A novidade é a máfia.

Percival Puggina (69) é arquiteto, empresário, escritor, titular do Blog do Percival Puggina, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, membro do grupo Pensar+, e autor de “Crônicas contra o totalitarismo”; “Cuba, a tragédia da utopia” e “Pombas e Gaviões”

Esta matéria foi originalmente publicada pelo Blog do Percival Puggina

Última actualización el Miércoles, 12 de Febrero de 2014 08:49