Bailarinos desertam de Cuba para participar de companhias de balé nos Estados Unidos Imprimir
Escrito por Indicado en la materia   
Lunes, 18 de Noviembre de 2013 08:47

Cuba adota medidas especiais para segurar um de seus recursos naturais mais preciosos: bailarinos de balé. Para desencorajar deserções, as autoridades às vezes impedem artistas talentosos de sair em turnê ou dizem aos dançarinos jovens que encontrar um emprego relacionado será difícil em um mundo capitalista ingrato.
Bailarinos desertam de Cuba para participar de companhias de balé nos Estados Unidos Chris Hinkle/NYTNS
Porém, isso não desestimulou sete integrantes da principal companhia, o Balé Nacional de Cuba, que chegaram aos Estados Unidos no primeiro semestre. E em uma história de sucesso notável, todos eles conseguiram empregos, incluindo o caso perfeito demais para ser verdade de Arianni Martin, 21 anos. Em novembro, ela dançará o papel principal em "Cinderela", de Prokofiev, com o Balé do Arizona.

Há pouco mais de seis meses, Martin e seis outros bailarinos, incluindo seu namorado, Randy Crespo, desertaram do Balé Nacional durante excursão pelo México. O grupo chegou a Miami em abril sem emprego, sem dinheiro, sem conhecer a vida norte-americana de verdade e nem dominar o inglês coloquial.

— Nós sabíamos que estávamos deixando tudo para trás, e não sabíamos o que nos aguardava — , disse Martin recentemente enquanto ela e os novos colegas do Balé do Arizona faziam um intervalo durante os ensaios de "Cinderela". — Mas nós tínhamos de fugir —

A carreira na dança acrescenta outra camada de complexidade à história clássica do desertor cubano. Os bailarinos são quase tão admirados quanto os jogadores de beisebol em Cuba, e formam um grupo de elite apoiado pelo renomado Balé Nacional e sua grande dama de 92 anos, Alicia Alonso, que fundou a companhia em 1948.

Os bailarinos desertores expressam gratidão pelo treinamento rigoroso recebido. Entretanto, falaram que para satisfazer as aspirações artísticas e pessoais, eles precisavam se afastar de um sistema que parecia congelado no tempo e sujeito ao favoritismo político.

Para chegar aos EUA, onde enquanto cubanos ganhariam entrada privilegiada, o grupo foi de ônibus de Iucatã a Nuevo Laredo, na fronteira texana, 2.575 quilômetros no total. Em trânsito e enquanto cruzavam a ponte sobre o Rio Grande, eles tentaram não falar, temendo que o sotaque incentivasse ladrões a roubar seus passaportes.

Assim que os dançarinos chegaram à Flórida, eles receberam abrigo, apoio e treinamento no Balé Clássico Cubano de Miami. O diretor daquela companhia, Pedro Pablo Peña, veio para os EUA em 1980, no barco Mariel, então entendia a desorientação e incerteza experimentada pelos bailarinos.

— Em termos de talento, pode ser difícil para eles no começo porque existe todo um vocabulário que não conhecem, envolvendo uma mudança radical no estilo do balé clássico a que estão acostumados — , afirmou Peña. — "Minha maior preocupação foi que inicialmente eles estavam meio relutantes em se expressarem. Como estudaram em uma escola que é muito mais rígida e fechada, nós tínhamos de lhes falar que podiam se soltar, dizer o que quisessem, dançar como quisessem, divertirem-se. —

A maioria dos bailarinos haviam feito turnês internacionais com o Balé Nacional, assim não eram exatamente inocentes no exterior. Todavia, eles reconhecem que estavam abismados com determinadas características da vida diária nos Estados Unidos.

— Ninguém de nós tinha conta bancária, então Pedro Pablo teve de nos guiar nesse aspecto, e a maioria de nós também não tinha carteira de habilitação — , afirmou Crespo, 22 anos, e também membro do Balé do Arizona. — E entrar em uma loja em Miami, vendo todos aqueles produtos ao alcance da mão, esse foi outro choque. —

Para um país com pouco mais de 11 milhões de habitantes, Cuba tem um perfil destacado de forma incomum no mundo do balé internacional. Xiomara Reyes, uma das principais bailarinas do American Ballet Theatre desde 2003, é produto do mesmo programa que os recentes desertores. Esse sistema tem sido particularmente forte na produção de astros como Carlos Acosta, Jose Manuel Carreño, Yat-Sen Chang Oliva, Yosvani Ramos e os irmãos Daniel e Rolando Sarabia.

Para desestimular deserções, que assolam o Balé Nacional desde a década de 1960 e que se aceleraram nos últimos anos, os diretores da companhia espalharam histórias de terror sobre bailarinos que fracassaram no exterior e terminaram trabalhando como garçons. Um diretor não identificado do Balé Nacional afirmou à agência de notícias Associated Press, no primeiro semestre, que a situação do grupo de sete poderia se mostrar especialmente dura porque eles "ainda não são conhecidos em termos internacionais".

Ramona de Saá que, quando diretora da Escola do Balé Nacional deu aula para seis dos setes desertores, disse na mesma reportagem que — nós somos privilegiados aqui. No mundo do balé, a situação é difícil. —

Contudo, depois de uma audição impressionante, Edward González foi rapidamente convidado a se juntar do Balé Sarasota, na Flórida, e a velocidade com que foi contratado, contaram outras pessoas, rebateu quaisquer dúvidas que pudessem ter sido plantadas em suas cabeças pela propaganda do governo cubano. Annie Ruiz Díaz e Luis Victor Santana, um casal, terminaram contratados pelo Balé San Juan, Alejandro Méndez acabou aqui em Phoenix e Josué Justiz agora faz parte da companhia de desenvolvimento do Balé de Washington.

— A coisa mais difícil foi perceber que não existe volta, que você criou essa ruptura na vida — , disse Justiz, 21 anos, pelo telefone. — Porém, minha ideia era a de que precisava crescer por conta própria, aprender a ser independente e autossuficiente. Não existe apenas uma maneira de dançar ou de mexer o corpo, existem milhões de formas, e agora posso aprendê-las. —

Com toda a fama mundial, ou quem sabe até por causa dela, segundo os bailarinos, o Balé Nacional de Cuba tem um foco estreito e resiste à inovação. Enquanto elogiavam o rigor do treinamento, os dançarinos usavam palavras como "estagnado" e "congelado" para descrever o repertório da companhia, que se concentra em um punhado de balés clássicos, tais como "Giselle" e a "Dança dos Cisnes", e em métodos de ensino.

— A impressão é que você está sempre fazendo a mesma coisa — , explicou González.

E embora a antiga associação do balé com Alonso seja uma de suas principais ferramentas de marketing, os dançarinos a descreveram como não mais diretamente envolvida diariamente no comando da companhia. Ainda segundo os bailarinos, como as deserções são uma ameaça constante, a seleção dos profissionais que irão ao exterior é baseada não apenas no talento, mas também na confiabilidade política do artista.

— Vi que eles o escolhem para uma excursão internacional e depois, por um motivo ou por outro, você não tem mais permissão para viajar novamente por cinco anos, uma eternidade quando a carreira de um artista é tão curta — , disse Méndez, 21 anos. — Assim, quando fui escolhido para a minha primeira turnê, no México, pronto, eu me mandei de lá na primeira oportunidade que apareceu. —

Ib Andersen, protegido de Balanchine, que é diretor artístico do Balé do Arizona, afirmou que enquanto os cubanos — são muito bem treinados, com uma base sólida — , e têm — avidez para aprender e aprendem muito rápido — , eles ainda não estão "terminados" .

— O que acho que talvez lhes falte é juntar as coisas, compreender que a dança são frases, não um passo depois do outro — , ele explicou.

— Eles também ficando se exibindo: até onde você consegue pular? Aqui é algo diferente, mais sutil. —

Por sua vez, Martin declarou: — Ter a chance de se destacar, é por isso que estou aqui. Aprender com este novo estilo de Balanchine não é fácil, mas me dá uma sensação de liberdade. Parece que consigo fazer de tudo agora. —

 

 

Tomado de ZERO HORAS

Última actualización el Sábado, 23 de Noviembre de 2013 11:34