O ditador cubano Raúl Castro, critica aos cubanos pelas conseqüências de meio século de relativismo Imprimir
Escrito por Indicado en la materia   
Jueves, 15 de Agosto de 2013 11:49

O ditador cubano Raúl Castro desferiu seu mais longo e feroz discurso público até hoje sobre "a morte da cultura e da boa conduta cubana" (culpa dele e do Fidel).

Em discurso à Assembleia Nacional, Castro declarou que o comportamento dos cubanos – de urinar na rua a criar porcos nas cidades, passando por aceitar propinas – o havia levado a concluir que a ilha, apesar de cinco décadas de educação universal (comunista e ateia) havia "regredido em termos de cultura e civilidade".

Houve uma época, recorda Alexi, em que a vida em Cuba era mais simples. As pessoas se vestiam adequadamente. As crianças respeitavam os mais velhos. Roubar era algo errado.

— Meu pai me criou de forma bastante rigorosa. Mas isso se perdeu — disse Alexi, de 46 anos, motorista desempregado que vive em uma parte decadente da capital cubana.

Os cubanos constroem casas sem alvarás, pescam peixes de espécies ameaçadas, cortam árvores, fazem apostas, aceitam propinas e favores, acumulam bens para vendê-los a preços inflacionados e perturbam os turistas, disse Castro.

Os problemas não param por aí. Os cubanos também gritam nas ruas, falam palavrões indiscriminadamente, perturbam o sono dos vizinhos com música alta, bebem álcool em público, vandalizam telefones, andam de ônibus sem pagar e jogam pedras contra os trens de passagem, lamentou o presidente.

— Eles ignoram os padrões mais básicos de civilidade e respeito. Tudo isso acontece bem embaixo de nosso nariz e sem provocar qualquer objeção ou contestação por parte dos demais cidadãos — continuou Castro.

— Tenho a amarga sensação de que somos uma sociedade com uma formação melhor do que nunca, mas não necessariamente esclarecida — afirmou o presidente.

Sua avaliação severa ecoou os pensamentos de muitos cubanos, que lamentam a escalada da corrupção de pequeno porte e do comportamento abrutalhado, e sentem saudades dos dias em que o salário do Estado bastava para viver, sem necessidade de surrupiar, e em que o sistema de educação cubano conquistava elogios internacionais.

Entretanto, muitos cubanos também acusam o governo de se apegar a um sistema econômico inviável. O senso de dever comum das pessoas se desintegrou, juntamente com a infraestrutura e os serviços do país.

No entanto, enquanto Castro criticava seus compatriotas por perderem a "honestidade, decência, vergonha, decoro, honra e sensibilidade aos problemas dos outros", muitos cubanos acusavam o governo de se apegar a um sistema econômico impraticável, enquanto a infraestrutura e a economia do país desmoronam e, com elas, o senso de dever comunitário do povo.

—Ele deveria ter assumido a responsabilidade — disse Alexi, que pediu que seu nome completo não fosse citado porque estava discutindo a liderança cubana.

O senso moral dos cubanos foi abalado, disse ele, pelo "período especial" de severas dificuldades econômicas que se seguiu ao colapso da União Soviética, quando muitas pessoas recorreram a roubos, trapaças e, em certos casos, à prostituição para sobreviver. Alexi, em pé, sem camisa, do lado de fora de sua casa, apontou para seu filho, de 24 anos, que estava consertando uma calota na calçada.

— Como eu poderia tê-lo criado com a mesma moral quando o simples ato de colocar arroz, feijão e porco na mesa requer toda espécie de ilegalidade? Tive de ensinar a ele os valores da sobrevivência — disse.

Em seu pequeno e mal ventilado apartamento no centro da cidade, Rosa Marta Martínez, de 65 anos, concordou.

— O que se poderia esperar? As pessoas têm problemas de moradia. Os preços da comida são altos. Estão desesperadas — disse Martínez, que divide o apartamento de um quarto com dois filhos e um neto.

No edifício em ruínas de Martínez, era possível ouvir a batida do reggaeton, que substituiu a timba, uma forma de música dançante cubana, como a trilha sonora nacional, eclodindo do outro lado da rua. Moradores disseram que as crianças brincam nos corredores até tarde da noite, e que os vizinhos faziam bastante barulho o tempo todo, ignorando suas queixas. Nas ruas próximas, havia lixo empilhado na calçada ao lado de lixeiras vazias.

Ainda assim, Havana evitou a criminalidade desenfreada e a violência das drogas que assolam muitas cidades latino-americanas – e também estadunidenses. E, apesar das queixas sobre a deterioração dos modos, muitos cubanos mantêm um senso de comunidade, permanecendo perto da família, compartilhando alimentos e ajudando amigos e vizinhos.

Em contrapartida, pessoas como Miguel Coyula, especialista em planejamento urbano, estão preocupadas com a possibilidade de toda uma geração não ter conhecido nada além de uma economia degenerada e as privações do período pós-soviético.

Além disso, segundo ele, a "pirâmide invertida social" – na qual um médico ganha menos que uma manicure – está se tornando ainda mais pronunciada, à medida que pequenos empresários, utilizando as aberturas feitas por Castro a fim de introduzir algumas iniciativas privadas, têm ganhado dinheiro vendendo pizzas ou telefones celulares.

— O dinheiro não está nas mãos das pessoas mais educadas — disse Coyula.

Para Katrin Hansing, professora de antropologia da Universidade da Cidade de Nova York e estudiosa da juventude cubana, crescer em um ambiente onde a fraude e a trapaça são um modo de vida é algo que fomenta o pessimismo.

— Esse pessimismo alimenta a falta de engajamento das pessoas. Há pouca responsabilidade individual com o coletivo — disse ela.

Os jovens se sentem alienados em relação aos líderes que estão envelhecendo, disse Hansing.

— Há uma discrepância muito explícita entre quem está comandando o espetáculo e quem o vive — disse ela. Os jovens estão "vivendo em um universo paralelo."

Cruzando a cidade a partir do prédio onde mora Martínez, Juan, de 19 anos, estudante de veterinária, cuspia na cabeça de um crocodilo no zoológico do centro da cidade. O crocodilo não parecia feliz. Latas de refrigerante amassadas, jogadas por visitantes que por lá passavam, flutuavam na água espumosa em torno de focinho do animal.

— Eu só queria ver se ele se mexia — disse Juan, que se recusou a dizer seu sobrenome ao ser perguntado sobre o seu comportamento. Ele disse ainda que muitas pessoas de sua idade não tinham interesse em se educar ou trabalhar.

— Elas só querem saber de roupas, tênis legais, reggaeton. Você já ouviu as letras dessas músicas? São bastante vulgares — disse ele.

Cuba dá grande importância ao seu prestígio cultural. Depois da revolução de 1959, o governo procurou erradicar a decadência de Havana que tanto atraiu americanos, entre outros. O Estado criou uma campanha nacional de alfabetização, ofereceu educação gratuita a todos e estabeleceu programas de esportes, balé e música.

Em uma terra onde axiomas moralizantes são expostos de maneira contundente em murais e cartazes, até mesmo em algumas televisões – como na de Martínez, cedida pelo governo – têm de transmitir o ditado, quando ligadas, de que "ser culto é o único modo de ser livre."

Por outro lado, os cubanos se queixam de que os padrões profissionais decadentes, os professores inexperientes com poucos anos a mais que seus alunos e a falta de espaços públicos adequados têm ajudado a corroer o civismo das pessoas.

— As crianças não têm onde jogar futebol ou xadrez — disse Yusaima González, de 22 anos, neta de Martínez, sobre o labirinto de ruas barulhentas onde mora. Enquanto ela falava, seu filho, de 3 anos, jogava bola no corredor sujo do lado de fora.

— Os jovens precisam de lugares para dançar, jogar e ouvir música. Algum lugar em que possam se sentir parte de alguma coisa — disse ela.

Em seu discurso, Castro propôs combinar a educação, a promoção da cultura e a aplicação da lei para restaurar a civilidade do país. Ele pediu aos sindicatos de trabalhadores, autoridades, professores, intelectuais e artistas, entre outros, que ajudem a motivar os outros cubanos a seguirem os padrões de comportamento.

González, porém, acredita que penalizar as pequenas infrações só afasta ainda mais os jovens e das autoridades. Há dois anos, a polícia multou o seu irmão, hoje com 14 anos, em cerca de 2 dólares por jogar futebol na rua sem camisa, disse ela.

— Imagine só, multar um menino de 12 anos — desabafou ela.

Além disso, repreender os jovens cubanos apenas os aliena ainda mais, pensam alguns cubanos e especialistas no assunto.

— Seria ótimo se os poderosos transformassem esses problemas em uma discussão aberta na sociedade cubana — disse Hansing.

— Não é uma causa perdida — disse ela sobre o resgate dos valores culturais de Cuba.

Tomado do ZERO HORAS trduzido do THE NEW YORK TIMES NEWS SERVICE

Última actualización el Lunes, 19 de Agosto de 2013 09:11