Yoani Sánchez e a falta de democracia em Cuba Imprimir
Escrito por Indicado en la materia   
Sábado, 11 de Mayo de 2013 10:26
Por Cecília Toledo.-
O regime totalitário de Cuba foi mais uma vez exposto em carne viva durante a passagem pelo Brasil da jornalista cubana Yoani Sánchez, conhecida por manter o blog Geração Y no qual faz críticas ao regime castrista por causa do cerceamento das liberdades democráticas no país.
Onde ela esteve, foi recebida com manifestações de repúdio por parte de membros do PCdoB, que a acusavam de “atacar o socialismo de Cuba”. No entanto, por mais agressivas que fossem as manifestações, elas não conseguiram encobrir a verdade que salta aos olhos de todos: em Cuba o povo não goza de liberdades democráticas. Foi o que Yoani respondeu aos manifestantes, não sem uma ponta de ironia: “gostaria que em meu país essas manifestações também fossem permitidas”.
A censura, a pena de morte, as detenções arbitrárias, a proibição ao direito de ir e vir, são algumas das regras existentes em Cuba e que, por mais que o PCdoB não goste, dão razão a Yoani. Ela vinha tentando deixar a ilha desde 2008 sem conseguir. Como ela, várias pessoas eram impedidas de viajar para fora de Cuba. Depois de muita pressão, o governo de Raúl Castro acabou por sancionar a nova Lei de Migração no dia 14 de fevereiro, simplificando os trâmites para viajar ao exterior. Beneficiada por essa lei, Yoani pode finalmente embarcar para o Brasil no dia 18.

O PCdoB, representado pela UJS (União da Juventude Socialista), que apoia o regime castrista, tentou calar Yaoni com vaias e gritos, apresentando-se como defensor da revolução cubana versus Yoani, a defensora da democracia burguesa. Mas não existe tal revolução cubana. Se Cuba fosse um país socialista, como dizem os militantes do PCdoB, realmente deveríamos defendê-la. Mas se fosse assim, não teria tanta gente descontente com o regime e haveria liberdade de expressão, um dos requisitos básicos de um país socialista.

Há muito a revolução cubana retrocedeu, e o que existe em Cuba é uma ditadura. O governo castrista destruiu as bases do socialismo e restaurou o sistema capitalista. A enorme dissidência que existe na ilha, e que vem crescendo a cada dia, se deve justamente à economia de mercado, ao enorme desemprego, baixos salários, à miséria crescente que gera grande descontentamento entre a população. O governo culpa o embargo econômico imposto pelos EUA, mas na prática esse embargo já foi há muito superado. As transações comerciais entre os dois países são praticamente normais e constantes, além das livres transações com países europeus e o Canadá, mas o governo de Cuba continua agitando a bandeira do embargo para justificar a enorme crise econômica na qual submergiu o país.
Para controlar a situação, o governo mantém um regime totalitário que pisoteia os direitos humanos mais elementares, reprimindo qualquer tipo de crítica e acusando os dissidentes de serem “contrarrevolucionários”. É isso o que permite que surjam as Yoani - toda ditadura gera os democratas -, e enquanto se diz defensor do socialismo, o que o PCdoB está defendendo de fato é um regime totalitário, da mesma forma como defende a ditadura de Assad, na Síria, que o povo em guerra está tentando derrubar.

O que vem gerando descontentamento em Cuba não é o socialismo, como apregoam o imperialismo e os gusanos, porque este já não existe. O que gera descontentamento é a miséria causada pelo capitalismo restaurado, que trouxe de volta as mazelas que os cubanos suportavam no governo Batista contra as quais fizeram a revolução de 59. A insistência do PCdoB em continuar afirmando que Cuba é um país socialista não ajuda o povo cubano, mas justamente seus maiores inimigos, o imperialismo americano. Porque, ao identificar o socialismo com a miséria em que Cuba está submersa e a violação dos direitos humanos, alimentam a propaganda contrarrevolucionária e antissocialista. E o pior: fazem com que a classe trabalhadora do mundo inteiro repudie o socialismo ao invés de lutar por ele.

Uma viagem ao país do medo
Basta uma viagem a Cuba para verificar, in loco, que aquilo que o PCdoB defende não é uma revolução socialista, mas uma ditadura ferrenha e cruel. Em uma visita à Ilha em 2010, pude sentir na pele essa realidade. Aquela festa toda à qual nos acostumamos a ver nas fotos e documentários sobre a revolução cubana de 1959 há muito não existe. Cuba virou o país do medo. Durante dias e dias andei pelas ruas de Havana e não vi apenas o capitalismo, a miséria, o abandono, mas também a falta total de apoio por parte da população ao governo. Na universidade, entre os estudantes, nos bares e lanchonetes, na famosa Casa de las Américas, na sorveteria mais frequentada de Havana, a Cornélia, não encontrei uma só pessoa que falasse bem do governo. Em troca, vi centenas de policiais por todos os lados, um em cada esquina, típico de um país militarizado.

Pude sentir cara a cara o medo das pessoas, um medo velado, e a desconfiança em relação a todos os estrangeiros que fazem perguntas, que buscam conhecer o país. Ninguém se sente à vontade para falar de Cuba, para fazer suas críticas abertamente. Como se todo mundo se sentisse perseguido. O único jornal que circula livremente é o Granma, órgão do Partido Comunista Cubano, em cujas páginas só existem artigos elogiando o governo.  Rádio e televisão são praticamente inexistentes. Assim, quem quer se informar, é obrigado a ver o mundo através do Granma. O jornal é distribuído gratuitamente, mas em cada esquina tem um mendigo oferecendo o jornal em troca de alguns pesos para poder comer.

O silêncio de Dilma
Aqui no Brasil, o PCdoB faz a sua parte para manter essa ditadura. Como integrante do governo Dilma, o PCdoB é corresponsável pelo silêncio do governo brasileiro diante das violações dos direitos humanos em Cuba. Lançando mão do mesmo argumento de todos os governos burgueses, de que não pode se intrometer nos assuntos internos de outros países, Dilma tem virado as costas para o que ocorre na ilha. Faz isso justamente para não colocar em risco o acordo que tem como o PCdoB, que faz parte da Frente Popular, bem como as boas relações que mantém com o governo cubano. Inclusive o governo brasileiro vem investindo capital em Cuba, sendo que no momento está ampliando um porto a 40 quilômetros de Havana, o Porto de Mariel, no qual injetará US$ 950 milhões. Cerca de 70% dos recursos necessários para o empreendimento sairão dos cofres do BNDES (Fonte: O Estado de S. Paulo, 2/13).

Com isso, o PT, que diz defender os direitos humanos, torna-se conivente com um regime que os pisoteia, onde não há liberdade de expressão, onde a mínima crítica ao regime é motivo para prisão arbitrária, onde presos políticos são obrigados a fazer greve de fome durante meses para serem ouvidos pelas autoridades. A Anistia Internacional revelou no ano passado que o número de prisões políticas cresceu na ilha nos últimos dois anos. O levantamento inclui políticos dissidentes, ativistas de direitos humanos, jornalistas e blogueiros em todo o país. "Após a liberação em massa de prisioneiros políticos em 2011, as autoridades mudaram sua estratégia para silenciar os dissidentes, assediando ativistas e jornalistas com prisões curtas e atos públicos de repúdio", afirmou Gerardo Ducos, pesquisador cubano da Anistia Internacional. A entidade de direitos humanos afirma que as autoridades cubanas não toleram críticas a políticas do governo e denunciam o uso de leis de "desordem pública", "periculosidade" e "desrespeito" para perseguir presos políticos. Dentre as violações estão incluídas a prisão de 65 jornalistas desde março de 2011, alguns deles de forma repetida. Um dos exemplos é o jornalista José Alberto Álvarez Bravo, de Havana, que foi detido 15 vezes, uma a cada 15 dias. (Fonte: Folha de S. Paulo, 3/12)

O que a visita de Yoani trouxe à tona, mais uma vez, é que em Cuba as massas, que festejaram até mais não poder a gloriosa revolução de 1959 que jogou por terra anos de sofrimento sob a ditadura de Batista, hoje vivem sob o tacão de ferro de outra ditadura, a dos Castro, contra a qual ninguém pode abrir a boca sem ser acusado de “contrarrevolucionário” e jogado numa prisão. Ao tentar calar a boca de Yoani, o que o PCdoB está tentando ocultar é aquilo que já não dá mais para esconder: que o regime cubano não é um regime que se sustenta com o apoio das massas, mas com força de uma ditadura, a única que ainda sobrevive em todo o continente americano.

Qui, 28 de Fevereiro de 2013 01:19
Tomado de LITCI.ORG