Cuba: brechas no monopólio da informação Imprimir
Escrito por Indicado en la materia   
Viernes, 25 de Mayo de 2012 20:00

Ainda que fosse inevitável, o colapso do monopólio da informação em Cuba só agora começa a ser um fato, embora ainda seja prematuro falar de uma era digital no país.

É como pensar numa terra que deixa de ser árida, entre cujas fendas brota uma flor que se abre na superfície, com caule fraco, mas com cada vez mais vitalidade. Esta metáfora serve para entender que o que está acontecendo em Cuba está muito distante de uma ‘era digital’. É mais apropriado falar em termos de uma ‘manhã que pode ser diferente’.

“O acesso à internet em Cuba continua sendo muito limitado, muito controlado e muito lento”, explica o jornalista e escritor cubano Leonardo Padura, conhecido internacionalmente por seus romances e novelas policiais.

“Me exaspera a quantidade de tempo que se perde tentando uma conexão. E ainda pior é a quantidade de tempo necessária para obter algum resultado de busca”, acrescenta Padura, uma das vozes mais agudas e críticas para entender a complexa realidade cubana.

Ganhador de vários prêmios internacionais por sua obra literária e reconhecido por suas crônicas jornalísticas, Padura destaca que em Cuba “a conexão à internet é feita por satélite, e não por cabo digital. Isso explica a lentidão e dificuldade. Apesar disso, há pessoas que, de uma forma ou de outra, têm acesso à web no trabalho, escola ou em casa. É um grupo muito pequeno de pessoas que, pouco a pouco, vai se ampliando.”

Não existem números oficiais que permitam ter uma ideia da quantidade de cubanos que conseguem se conectar à internet. “É um acesso praticamente inexistente, mas isso está mudando”, enfatiza Padura. “O correio eletrônico dificilmente funciona porque a conexão é sempre deficiente. O que me parece interessante é comprovar a crescente presença de blogs feitos em Cuba, mas que não podem ser seguidos pelos próprios cubanos, somente do exterior da ilha.”

‘Generación Y’ é o exemplo mais mediatizado do êxito de um blog em Cuba. Criado pela jovem filóloga Yoani Sánchez, o blog permitiu que o mundo pudesse se aproximar de uma realidade muito diferente da que se espreita através do discurso oficial do regime Castro.
É o motivo pelo qual ‘Generatión Y’ obteve mais de uma dezena de prêmios internacionais, entre eles o concedido pela Fundação Príncipe Claus, da Holanda, em 2010.

Quebra do monopólio
O caso de ‘Generatión Y’ foi determinante para que outros dissidentes e não dissidentes dessem início a seus blogs e provocassem as primeiras rachaduras no dique que contém o acesso à informação em Cuba.

“Existe um grupo de blogs em Cuba que se localiza essencialmente em duas categorias: os oficiais e os não oficiais. Nos primeiros, as diferenças são mínimas. Nos não oficiais, há muitos matizes. Alguns falam da criação, por exemplo, de um socialismo participativo e democrático, cujo objetivo é um aperfeiçoamento democrático do socialismo cubano; outros adotam uma postura bastante hostil com respeito à realidade cubana”, comenta Padura.

A principal conquista da aparição destes blogs e das novas tecnologias é que tornaram impossível que se mantenha fechado o domínio da informação em Cuba, como o regime conseguiu fazer durante décadas.
Após o triunfo da revolução cubana, o regime dos irmãos Castro estabeleceu em 1961 um esquema vertical de controle sobre a informação que deveria circular na ilha. Para isso, a experiência da União Soviética foi determinante.

Mas muitas décadas mais tarde, a situação poderia ser diferente. “Esse monopólio da informação foi se enchendo de buracos”, assegura Padura, dizendo que “não só os blogs tiveram um papel importante. A maneira que se utiliza o cabo para gravar programas dos canais de televisão de Miami também. Há uma pequena indústria que reproduz esses programas em DVDs. Muitas pessoas, à noite, depois da novela brasileira ou cubana, assistem a estes programas.”

Padura abandona a ficção literária quando diz que será uma decisão política do governo cubano outorgar ou não um acesso livre à internet. “Não fazê-lo compromete o futuro do país, e não creio que por um maior controle da informação, controle que é um manto que foi se enchendo de buracos, se detenha o acesso ao mundo digital.”

Uma resposta negativa do regime dos irmãos Castro constituiria um erro gravíssimo, opina Padura, que ainda mantém a esperança de que o governo de Raúl Castro permita o acesso à internet. “Creio que é questão de tempo e de decisões políticas inteligentes”, aponta o escritor.