Sua fala aos bispos do Brasil marcou uma virada radical no discurso do Vaticano. É um choque com a mensagem erudita e intelectual que marcou o pontificado de Bento XVI, seu antecessor. O porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, reconheceu a mudança e avisou :
— Seguramente é o mais longo e estruturado discurso de seu Pontificado. Ele expõe sua visão da Igreja e dos problemas da Igreja de hoje.
De acordo com dados do censo do Brasil, o número de católicos caiu de 125 milhões em 2000 para 123 milhões em 2010, com a participação da igreja da população total, passando de 74 por cento para 65 por cento. Durante o mesmo período, o número de protestantes evangélicos e pentecostais passou de 26 a 42 milhões, um aumento de 15 por cento a 22 por cento da população em 2010.
Francisco disse que a Igreja no Brasil “aplicou com originalidade” o Concílio do Vaticano II, isto é, a série de reformas decididas entre 1962 e 1965. Mas lembrou que hoje “vivemos um momento novo”. Referindo-se aos fiéis que se desiludiram com a Igreja Católica, o Papa afirmou:
— Talvez a Igreja lhes apareça demasiado frágil, talvez demasiado longe das suas necessidades, talvez demasiado pobre para dar resposta às suas inquietações, talvez demasiado fria para com elas, talvez demasiado autoreferente, talvez prisioneira da própria linguagem rígida, talvez lhes pareça que o mundo fez da Igreja uma relíquia do passado, insuficiente para as novas questões; talvez a Igreja tenha respostas para a infância do homem, mas não para a sua idade adulta – disse, com uma franqueza impressionante.
E completou dizendo que, diante desta situação, o que as pessoas querem é “uma Igreja que, na sua noite, não tenha medo de sair” :
— Serve uma Igreja que saiba dialogar com aqueles discípulos, que, fugindo de Jerusalém, vagam sem meta, sozinhos, com o seu próprio desencanto, com a desilusão de um cristianismo considerado hoje um terreno estéril, infecundo, incapaz de gerar sentido.
Para o Papa Francisco, os católicos comuns simplesmente precisam de uma simples mensagem de amor, perdão e misericórdia.
O Papa Francisco lembrou que educação, saúde, paz social “são as urgências do Brasil” e disse que os bispos não devem ter medo de oferecer a contribuição da Igreja.
— A Igreja tem uma palavra a dizer sobre estes temas, porque, para responder adequadamente a esses desafios, não são suficientes soluções meramente técnicas, mas é preciso ter uma visão subjacente do homem, da sua liberdade, do seu valor, da sua abertura ao transcendente. E vocês, queridos Irmãos, não tenham medo de oferecer esta contribuição da Igreja que é para bem da sociedade inteira.
Incitando os bispos à autocrítica, o Papa Francisco perguntou :
— Eu gostaria que hoje nos perguntássemos todos: somos ainda uma Igreja capaz de aquecer o coração? Uma Igreja capaz de conduzir a Jerusalém? Capaz de acompanhar de novo a casa? Em Jerusalém, residem as nossas fontes: escritura, catequese, sacramentos, comunidade, amizade do Senhor, Maria e os apóstolos…somos ainda capazes de contar de tal modo essas fontes, que despertem o encanto pela sua beleza ? – perguntou.
O Papa terminou o seu discurso fazendo um apelo para que a Amazônia não seja destruída, dizendo que Deus confiou a floresta ao homem, “não para que a explorasse rudemente, mas para que tornasse ela um jardim”. E disse que o futuro da Igreja também está no trabalho missionário da Igreja na Amazônia.
Tomado de GLOBO.COM
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