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Notícias: Brasil
Cristina Kirchner pede ao papa mediação para conseguir diálogo sobre Malvinas PDF Imprimir E-mail
Escrito por Indicado en la materia   
Miércoles, 20 de Marzo de 2013 08:54

Infolatam/EFE.-

A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, afirmou nesta segunda-feira em Roma que pediu ao papa Francisco que interceda para abrir um diálogo entre o Reino Unido e Argentina sobre o tema das ilhas Malvinas.

Cristina, que almoçou com o pontífice, explicou após reunião que abordou o que para ela é “um tema que tem muito sentido para os argentinos”.

Segundo a presidente “é necessário que se cumpram as mais de 18 resoluções das Nações Unidas para que haja diálogo”, lembrando que diferentemente do que aconteceu em situações anteriores, Argentina e Reino Unido vivem governos democráticos.

“É imprescindível que todos os países cumpram as resoluções das Nações Unidas e nosso pedido ao papa vai nesta direção”, explicou a chefe de Estado.

Cristina Kirchner também comentou como foi o encontro com o papa Francisco, definindo-o como “sereno, seguro e tranquilo, em paz”. A presidente argentina completou dizendo que o pontífice mostrou firmeza no compromisso de fazer mudanças no Vaticano. “Já se viu em seus gestos e atitudes, e se verão em outras de suas decisões.

Tomado de INFOLATAM/EFE

Última actualización el Miércoles, 20 de Marzo de 2013 09:02
 
ENTREVISTA A YOANI SÁNCHEZ DA REVISTA BRASILEIRA 'VEJA' PDF Imprimir E-mail
Escrito por Indicado en la materia   
Miércoles, 13 de Marzo de 2013 13:14

Yoani: 'Tentam me calar porque divulgo a Cuba real'

A blogueira cubana Yoani Sánchez descreve um sistema de saúde à beira do colapso e uma economia na qual, para sobreviver, é preciso roubar do estado

Branca Nunes e Duda Teixeira

“Solidariedade, pluralidade e, principalmente, o desejo de voltar”. Apesar das manifestações hostis de um grupo de simpatizantes da ditadura dos irmãos Castro que enfrentou na passagem pelo Brasil, a frase resume a lembrança que Yoani Sánchez levará do país. O recado aos baderneiros ligados a partidos de esquerda é igualmente conciso: ela sugere que morem em Cuba para conhecer a “realidade de um mercado racionado, dualidade monetária, falta de liberdade e impossibilidade de se manifestar na rua”.

Com os intermináveis cabelos castanhos presos num rabo de cavalo, saboreando uma pastilha para aliviar a rouquidão e com a expressão serena de quem efetivamente acredita no que diz, a jornalista cubana relatou nesta sexta-feira à reportagem de VEJA um pouco do cotidiano dos moradores da ilha no Caribe. Leia trechos da entrevista.

Como a senhora viu as manifestações hostis dos últimos dias? Por um lado me sinto feliz por estar num país onde existe liberdade democrática e pluralidade. O problema é quando essas manifestações impedem e boicotam algo tão pacífico quanto a apresentação de um documentário ou uma sessão de autógrafos. Acho contraditório usar um espaço democrático para impedir que alguém se expresse livremente.

A senhora ficou amedrontada? Não, porque conheço esses métodos do meu país: a coação e a difamação. Infelizmente, nos últimos anos vivi situações semelhantes em Havana e outras cidades.

Eles conhecem a realidade cubana? Lamentavelmente, a maioria não conhece meu país, minha história ou meus textos. Eles acreditam numa Cuba estereotipada, uma ilha de esperança, com liberdade para todos. Cuba não vive um comunismo, mas um capitalismo de estado. Recomendaria que cada um deles morasse um tempo em Cuba para viver na pele a realidade de um mercado racionado, dualidade monetária, falta de liberdade, impossibilidade de se manifestar na rua. Depois desse tempo, duvido que continuem a defender o governo cubano. Tentam me calar porque divulgo uma Cuba menos parecida com o discurso político e mais parecida com a rua. Uma Cuba real.

Que Cuba é essa? Uma Cuba linda, mas difícil. É importante diferenciar Cuba de um partido, de uma ideologia, de um homem. Ela é muito mais do que isso. É um país onde as pessoas precisam esconder suas opiniões com medo de represálias, onde muitos jovens querem emigrar por falta de expectativa, onde o estado tenta controlar todos os detalhes da vida. Onde colocar um prato de comida em cima da mesa significa submergir-se diariamente à ilegalidade para conseguir dinheiro.

Muitas pessoas de vários países costumam elogiar o sistema de saúde e o sistema educacional de Cuba. Esses elogios são pertinentes? Nos anos 70 e 80, Cuba viveu o florescimento de toda a estrutura de saúde e educação. Foram construídas escolas e postos de saúde em toda parte graças aos subsídios soviéticos. Quando a União Soviética caiu, Cuba teve que voltar à realidade econômica. Os professores imigraram por causa dos baixos salários, a qualidade diminuiu e a doutrina aumentou. Exatamente como na área da saúde. Hoje, quando um cubano vai a um hospital, leva um presente para o médico. É um acordo informal para que o atendam bem e rápido. Levam também desinfetante, agulha, algodão, linha para as suturas. O governo usa a existência de um sistema gratuito de saúde e educação para emudecer os críticos, silenciar a população. Não passo todos os dias doente ou aprendendo, quero ler outros jornais, viajar livremente, eleger meu presidente, poder me manifestar, protestar.

Como funciona o sistema de aposentadoria em Cuba? Esse é um dos setores mais pobres. Um aposentado ganha cerca de 15 dólares conversíveis por mês. Como a maioria dos cubanos não vive do salário, mas do que pode roubar do estado dentro do local de trabalho, quando se aposenta ele perde essa fonte de renda. Em Havana é possível ver muitos velhos vendendo cigarros nas ruas.

Que tipo de racionamento existe em Cuba e como ele funciona? Cada cubano tem direito a uma cota mensal de alimento com preços subvencionados pelo estado. Estudos dizem é possível se alimentar razoavelmente bem por duas semanas com essa cota. Nela existe arroz, açúcar – que por sinal é brasileiro –, um pouco de café, azeite e, às vezes, frango. Para sobreviver a outra metade do mês os cubanos precisam ter os pesos conversíveis. O salário médio na ilha é de 20 dólares. Um litro de leite custa 1,80 dólares. Por isso, as pessoas apelam para a ilegalidade: roubam do estado e vendem no mercado negro, prostituem-se, exercem atividades ilegais, como dirigir taxis ou vender produtos para os turistas. Graças a isso e às remessas enviadas pelos cubanos exilados é possível sobreviver. Uma revolução que rechaçou esses exilados agora depende deles.

A senhora disse que os gritos de ordem dos manifestantes brasileiros já não se escutam mais em Cuba. Qual lhe surpreendeu mais? “Cuba sim, ianques não”, por exemplo. É uma expressão fora de moda. Em Cuba não usamos mais a palavra ianque para os americanos. Ela é usada apenas nos slogans políticos. Falamos yuma, que não pejorativo. Ao contrário, mostra um certo encanto em relação a eles. A propaganda oficial, de ataques aos Estados Unidos e ao imperialismo, criou um sentimento contrário ao esperado. A maioria dos jovens hoje é fascinada pelos americanos. Até acho ruim esse enaltecimento por outro país, mas é uma realidade.

O que os cubanos nascidos depois da revolução acham de figuras como Fidel Castro e Fulgêncio Batista? Nasci em 1975, quando tudo já estava burocraticamente organizado. Na escola, apresentavam Fidel como o pai da pátria. Era ele quem decidia quantas casas seriam construídas, o que iríamos vestir. Na juventude, Fidel passou a ser uma figura distante. Diferente dos nossos pais, que viveram uma fascinação pela figura de Fidel, minha geração é mais crítica. O Fulgêncio Batista era o ditador anterior. A revolução tirou um ditador do poder e se converteu em uma ditadura.

As gerações mais antigas continuam fiéis à revolução? Existem os que creem realmente na revolução, sem máscaras nem oportunismo, um pequeno grupo. Os que já não creem, mas não querem aceitar que se equivocaram, porque entregaram a ela seus melhores anos, e aqueles que deixaram de acreditar no sistema e se transformaram em pessoas críticas.

Em 2007, o governo brasileiro deportou os boxeadores cubanos Guilhermo Rigondeaux e Erislandy Lara, que tentavam o exílio na Alemanha. Qual sua opinião sobre isso? O governo brasileiro teve um triste papel neste caso, de cumplicidade. Quando os atletas retornaram, o governo cubano fez um linchamento público na imprensa oficial, com vários insultos. Fidel Castro falou na televisão que um deles foi visto com uma prostituta na praia. Os filhos e a mulher desse homem foram expostos a isso. Foi um episódio bastante lamentável.

Por que a ditadura cubana ainda tolera suas críticas? Penso que a visibilidade que alcancei me protege. Sou vigiada constantemente, meu telefone é grampeado e existe uma série de mecanismos e estratégias para matar a minha imagem. Se não podem matar a pessoa, matam sua imagem.

A senhora é frequentemente acusada de receber dinheiro de governos contrários a Cuba para manter seu blog. Qual a origem desses rumores? Faz parte da estratégia de difamação: não discutir as ideias, mas a pessoa. Para ter um blog é preciso muito pouco dinheiro. O meu está num software livre, o wordpress, e fica hospedado num servidor da Alemanha que custa 36 euros por ano. Em 2006, um amigo alemão pagou vários anos a esse servidor. Quanto à conexão, aprendi alguns truques. Por exemplo, vou a um hotel e compro um cartão de conexão que custa 6 dólares a hora. Como preparo quatro ou cinco textos em casa, programo para que sejam publicados em dias diferentes. Com esse método, consigo me conectar mais de cinco vezes com um único cartão. No twitter, publico via mensagem de texto.

Que lembranças levará do Brasil? Muita solidariedade, pluralidade e, principalmente, o desejo de voltar. O pão de queijo também me encantou. Vou levar uma mala cheia deles para Cuba.

Tomado da Revista VEJA

Última actualización el Miércoles, 13 de Marzo de 2013 13:23
 
"Nada está mudando por vontade do Governo cubano", diz Yoani Sánchez PDF Imprimir E-mail
Escrito por Indicado en la materia   
Domingo, 10 de Marzo de 2013 11:34

Puebla (México), 9 mar (EFE).- A dissidente cubana Yoani Sánchez afirmou neste sábado no México que em seu país "nada está mudando por vontade do Governo" embora "algo esteja mudando" dentro dos próprios cubanos.

Em uma conferência sobre a liberdade de expressão em Cuba que ofereceu na reunião semestral da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), realizada em Puebla, centro do México, a blogueira sustentou que Cuba vive processos "irreversíveis de mudança" e o "esgotamento de um sistema de repressão" imposto há mais de meio século na ilha.

Sánchez, criadora do blog "geração Y" e ganhadora de prêmios de jornalismo e de direitos humanos em vários países, foi a primeira jornalista cubana em meio século a falar sobre temas de liberdade de expressão em uma apresentação intitulada "Como abrir por dentro o ferrolho cubano".

A blogueira dissidente, representante da SIP na ilha, explicou que o engenho dos cubanos para usar as tecnologias e divulgar conteúdos diferentes dos que são impostos pelo governo foi a chave no surgimento de um ânimo de libertação em seu país.

Combinado a isso, Sánchez considerou que a recente morte do presidente venezuelano, Hugo Chávez, poderia catalisar uma série de processos de abertura na ilha motivados, além disso, por reformas que o líder de Cuba, Raúl Castro, fará depois que se defina o que será feito com o subsídio de petróleo que Cuba veio recebendo do país sul-americano.

"Raúl Castro pode estar com estas pequenas flexibilizações, que não são nem o esperado nem o desejável, mas que estão dinamitando o sistema de maneira irreversível", opinou.

Sánchez aproveitou o fórum para apresentar alguns casos de violações à liberdade de expressão em seu país, como a que afeta o jornalista Calixto Ramón Martínez, que está detido há seis meses e em greve de fome desde 6 de março.

O jornalista está preso por ter denunciado em 2012 o desvio e mal estado de um lote de remédios que a Organização Mundial da Saúde (OMS) enviou para Cuba, e por divulgar um problema de cólera na ilha.

Com relação a isso, pediu aos jornalistas e meios de comunicação que não "desviem o olhar de Cuba" pois, apesar do clima de esperança de hoje, "são os olhos do mundo que nos protegem".

"Isso é o que aconteceu comigo", apontou Sánchez, que lembrou que as tecnologias têm hoje um papel crucial para o exercício e a promoção da liberdade de expressão em Cuba, especialmente a internet e as redes sociais, apesar de apenas 3% da população ter acesso à rede, segundo suas próprias estimativas.

A blogueira disse que hoje são os telefones celulares e os arquivos digitais "passados de mão em mão" que começaram a "estimular um apetite da população por ler materiais diferentes".

Yoani Sánchez, que saiu de Cuba legalmente em 17 de fevereiro graças à recente reforma migratória aprovada em outubro de 2012, disse se sentir segura em voltar a seu país, apesar do discurso anticastrista que fez nas últimas semanas.

"Não tenho nenhuma dúvida de que retornarei a Cuba, caso contrário estaria navegando em sentido contrário", acrescentou.

A visita ao México faz parte de uma viagem de 80 dias que inclui escalas em diversos países da América e Europa. EFE

 
A visita de Yoani Sanches ao Brasil: falta de educação e subserviência PDF Imprimir E-mail
Escrito por Indicado en la materia   
Sábado, 16 de Marzo de 2013 11:18

A blogueira, crítica do governo, Yoani Sánchez solicitou um novo passaporte e tendo-o recebido, decidiu fazer uma viagem de sete dias ao Brasil. Desde que lançou o blog “Generación Y”, em 2007, Yoani ganhou várias comendas: prêmio Ortega y Gasset do jornal espanhol “El País” (R$ 39,2 mil); prêmio do governo dinamarquês Príncipe Claus (R$ 100 mil); prêmio holandês Cepos (R$ 65 mil); prêmio Jaime Brunet da Universidade de Navarra (R$ 94,2 mil). Também ganhou menção honrosa na Maria Moors Cabot, da Universidade Columbia em Nova York (sem remuneração). (F S P, 21.02.2013, p. A-14).

Trata-se portanto de uma dissidente cubana de respeitabilidade internacional.

Por Edson Pereira

A vinda de Yoani ao Brasil não foi fácil. O regime cubano não permitia a saída da blogueira e o senador petista Eduardo Suplicy, sensibilizado com o trabalho dela, chegou a enviar uma carta à embaixada solicitando uma autorização especial para ela se ausentar do país.

Foi o bastante para transformar o senador em “inimigo da revolução” e por isso automaticamente promovido a agente da CIA. Ao se aliar à defesa de Yoani Sanchez, virou” persona non grata” do regime.

O embaixador cubano , Carlos Zamora Rodriguez  , segundo relato do senador Roberto Requião, do PMDB esbravejou ao receber a carta. “Como é que o PT permite isso? Esse senador é da CIA”. Eduardo Suplicy acusado de ser agente da CIA!!!!!! O senador tem uma história de atuação brilhante e essa acusação desconsidera a sua biografia .

Requião tentou sem sucesso promover a reconciliação entre o embaixador e o senador. Mas a revolta de Carlos Zamora foi parar na cúpula do PT, a quem ele se queixou formalmente da postura do senador, inclusive advertindo que o mau comportamento de Suplicy poderia comprometer a boa relação de Havana com o partido.

O PT não defendeu o senador e ao contrário, comprometeu-se a cerrar fileiras contra a visita da blogueira.  Suplicy tentou por meses, uma audiência com o embaixador, mas nunca conseguiu ser recebido. Com Yoani já no Brasil, também foi alvo da hostilidade de manifestantes, muitos deles petistas, que atacaram a blogueira cubana “Sempre defendi a democracia. Como diz a presidente Dilma, é melhor o barulho da liberdade de expressão, do que o silêncio da ditadura e, por isso, vou continuar defendendo a liberdade de expressão”. (Revista Veja, 27.02.2013, p. 55).

O governo cubano montou uma gigantesca operação para espionar a viagem e tentar desqualificar a blogueira.

Em seis de fevereiro, um grupo de militantes de esquerda, em sua maioria ligados ao PT, e também integrantes do PC do B e da CUT, foi chamado ao prédio da embaixada de Cuba em Brasília, para uma reunião com o embaixador Carlos Zamora Rodriguez.

O conselheiro político da embaixada, Rafael Hidalgo, no início do encontro falou que todos foram convocados de última hora, por telefone e não deveriam dizer os nomes, apenas as entidades e os partidos que representavam.

O embaixador entrou na sala e disse que todos estavam ali para ajudar o regime cubano a colocar nas ruas uma ofensiva de “contrainformação” para “desmascarar” Yoani Sanchez – “uma mercenária, financiada pelo governo dos Estados Unidos para trabalhar contra a Revolução Cubana, contra o povo, contra os trabalhadores”.

O diplomata distribuiu a todos um dossiê com 235 páginas, que reunia fotos pessoais de Yoani Sanchez, montagens e uma lista de seus prêmios internacionais, entre eles Ortega Y Gasset, da Espanha e o Príncipe Claus, da Holanda, ironicamente comendas concedidas apenas a destacados defensores da liberdade de expressão.  O dossiê é uma produção típica de ditaduras comunistas e relaciona coisas simples como comida, bebida e diversão, como se fossem artigos de luxo da “vida mercenária” da blogueira, que usaria sua luta pelas liberdades pessoais em Cuba, para ganhar dinheiro e, assim desfrutar mordomias impensáveis aos moradores da ilha como comprar uma lata de cerveja, um cacho de banana, ou ir à praia com amigos. Cada um dos presentes recebeu também um CD, com capas diferentes, provavelmente para identificar um eventual vazamento.

Os cubanos também disseram que vão seguir os passos da blogueira desde o instante em que ela pisar no Brasil, 24 horas, todos os dias.  Como o G2, serviço secreto cubano poderia fazer isso, atentando contra a soberania do Brasil é um mistério.

Um dos participantes do encontro, Ricardo Poppi Martins, é subordinado ao Chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho e coordenador-geral de Novas Mídias do Ministério. Um dia após a reunião, ele viajou para Havana para participar de um encontro promovido pela ditadura cubana sobre técnicas de “ciberguerra” e” novas formas de comunicação de rede e batalhas políticas”.  (Revista Veja 20.02.2013, p. 58-63).

A participação de Ricardo Poppi Martins foi confirmada pelo governo em 18 de fevereiro, mas a Secretaria-Geral da Presidência afirmou que a participação se deu por coincidência, já que Ricardo estava na embaixada para retirar um visto. Quanto ao CD recebido, uma assessora informou que ele foi “destruído” com uma tesoura. (F S P, 20.02.2013, p. A-13).

Como é que um embaixador de um país estrangeiro se vê no direito de convocar militantes partidários de outro país e até um representante do gabinete da Presidência da República para a execução de uma estratégia de censura à visita de uma cidadã de seu país que vem ao território brasileiro pacificamente, com visto concedido pelo governo?

O embaixador cubano praticou um atentado à soberania nacional, feriu os mais elementares princípios das convenções diplomáticas internacionais e deveria no mínimo ter sido convocado pelo governo brasileiro para dar explicações sobre sua atitude, mas nada foi feito.

E a ação do embaixador foi seguida à risca pelos que participaram da reunião. Alimentados pelo dossiê distribuído pelo embaixador, os militantes do PT disseminaram na Internet a estratégia de combate à blogueira.

A “RedePT13”, uma organização virtual montada pelo partido que produz perfil falsos e blogs apócrifos usados para atacar aqueles que são considerados inimigos do partido. Se é preciso espalhar uma mentira para difamar alguém, a rede é acionada. . A rede foi criada por André Guimarães, funcionário do Congresso, lotado no gabinete do deputado André Vargas, atual vice-presidente da Câmara e secretário nacional de comunicação do PT. Portanto , dinheiro do contribuinte sustenta o funcionamento da rede. ( Revista Veja, 6.3.2013, p. 54-55) .

Especializados em perseguir e difamar adversários do partido, os seus membros são chamados de “militantes virtuais”, e integram uma massa invisível, composta de sites e perfis apócrifos na internet.

A rede entrou em ação contra Yoani Sanches. O falso dossiê foi replicado na rede que foi transformada em um braço digital da polícia política de Havana. (Revista Veja 27.02.2013, p. 52-58). Foram postadas montagens fotográficas, e incentivados protestos contra a cubana.

Qual foi a reação do governo brasileiro? Nenhuma. O chanceler Antonio Patriota se limitou a dizer que não havia tomado conhecimento da conspiração. O embaixador Carlos Zamora Rodriguez esteve no Palácio do Planalto em 21 de fevereiro, visitando Marco Aurélio Garcia, assessor de assuntos internacionais do governo e além de não receber nenhuma admoestação, saiu sorridente e despreocupado “Marco Aurélio é um amigo que estava enfermo”.

Ao silenciar sobre a hostilidade a Yoani, e pior, ao estimular e coordenar os atos de hostilidade ficou evidente para certas correntes petistas que a ditadura cubana é elogiável e não deve ser criticada e que a imprensa livre, é, em si, insuportável.

Não era o PT um dos partidos que mais combateu o regime militar? Como é que esse mesmo partido pode apoiar ardorosamente a ditadura cubana que aprisiona seus cidadãos há mais de cinquenta anos?

Conforme assinala João Pereira Coutinho, Cuba não são os Castro. “Cuba pertence aos cubanos, atraiçoados por Fidel em 1959. E o mais irônico é que as promessas do ditador eram outras: acabar com o ‘bordel’ de Fulgêncio Batista, realizar eleições livres no curso prazo e até, pasme-se, abrir a ilha ao mundo. Todos sabemos o resto da história, feito de fuzilamentos no ‘paredón’, presos políticos, restrição das mais básicas liberdades (como a de sair do país) e uma miséria material que os turistas ocidentais, em viagens quase zoológicas, toma por exótica. De fato, não há nada mais exótico do que visitar seres humanos em cativeiro... Economicamente Cuba falhou como falharam todas as experiências coletivistas da história. Com ou sem embargos”. ( F S P , 26.02.2013, p. E-10) .

Ditaduras como a cubana são muito eficientes para silenciar a oposição interna mediante férreo controle das comunicações e uso de grupos de repressão. A própria Yoani comentou isso em Feira de Santana “Um protesto assim contra um convidado do governo cubano não duraria mais do que dois minutos”. Porém querer continuar exercendo controle semelhante em território de outro país é surrealista.

Ao convocar simpatizantes brasileiros para reprimir Yoani, o embaixador cubano deu um tiro no próprio pé.

O que seria uma visita cordial, objeto de algumas linhas na imprensa e curtas chamadas na televisão, transformou-se em fenômeno da mídia. Todos os passos da blogueira passaram a ser acompanhados pela imprensa, sua visita ganhou destaque em manchetes e amplo espaço nos noticiários jornalísticos da televisão.

Ao obter sucesso em sua empreitada, todavia, o embaixador cubano acabou por demonstrar que o regime cubano tem fiéis seguidores no Brasil. Jovens radicais se apressaram a seguir suas ordens e se prontificaram a infernizar a visita de Yoani, cujo crime em Cuba como assinala a jornalista Eliane Catanhêde é “falar, escrever e discordar”.

Mais ainda, tamanha preocupação com uma blogueira que é pouco conhecida em Cuba devido ao controle dos meios de comunicação e a restrição à Internet, mostrou que a abertura do regime é mais limitada do que a propaganda oficial sugere. Ou seja, o regime se abre, mas desde que os que discordam continuem silenciados, o que é uma contradição por si só, pois a abertura pressupõe ampla liberdade de comunicação.

A VIAGEM

Yoani Sánchez embarcou em 17 de fevereiro em Havana, com destino ao Brasil depois de ter recebido nos últimos anos, mais de 20 recusas do governo para poder viajar ao exterior.  Ela afirmou “É uma vitória limitada, porque a reforma migratória de Cuba ainda não contempla a possibilidade de entrar e sair da ilha como um direito inerente ao mero fato de ter nascido neste país. Eu levo comigo a mensagem da esperança. Não sou ingênua. Sei que existem problemas, mas acredito no futuro e tenho muita esperança para o povo. Não tenho medo do meu retorno. Alguns amigos estão preocupados achando que eles [do governo] não me deixarão voltar, mas eu não acho que isso acontecerá porque seria uma violação grave da lei”.

Além do Brasil, a viagem incluía Alemanha, Espanha, Holanda, Itália, México, Peru, República Tcheca, Suécia e Suíça. (F S P, 18.02.2013, p. A-11)

Para a turnê por 11 países, Yoani declarou ter trazido o equivalente a R$ 400. (F S P, 21.02.2013, p. A-14).

CHEGADA A RECIFE

Em sua primeira escala no Brasil, em Recife, a recepção que Yoani teve,  mostrou que o pedido do embaixador cubano foi seguido à risca. Como se ela fosse uma terrorista chegando ao país, um punhado de manifestantes lhe atirou notas falsas de um dólar, um deles teria puxado seu cabelo longo.

Contardo Calligaris assinala que a alternativa “liberdade ou justiça” é tão falsa quanto” a bolsa ou a vida”, fazendo alusão a assaltos onde ainda existe esta alternativa.  O comentário justifica-se porque na chegada de Yoani ao Brasil, “houve pessoas, para ressuscitar essa falsa alternativa: como pode ela criticar a falta de liberdade em Cuba, quando o regime acabou com a fome na ilha? O fato é que para acabar com a fome na ilha, não era necessário acabar com nenhuma das liberdades dos cubanos... Em particular a troca da liberdade pela justiça produziu mundos sem liberdade (isso era previsto) e (isso não era) totalmente injustos, corrompidos por burocratas apenas interessados em se manter no poder”. (F S P, 28.02.2013, p. E-10).

Sobre estas manifestações ela afirmou “Foi um banho de democracia. Queria que em meu país pudéssemos expressar opiniões e propostas diferentes com esta liberdade”. (F S P, 24.02.2013, p. C-8).

SALVADOR

No aeroporto de Salvador, um grupo pequeno, mas intimidador obrigou aos gritos de “Cuba sim, ianques não”, a blogueira a deixar o local por uma saída alternativa. Caio Botelho, 25, diretor da União da Juventude Socialista, ligada ao PC do B, disse que o ato visava desmascarar a ativista, “paga pela CIA”.

FEIRA DE SANTANA

A hostilidade dos radicais contra uma simples blogueira visitando o Brasil não ficou apenas nas manifestações de protesto contra sua presença, estes sim uma demonstração patente de servilismo dos manifestantes ao governo cubano, mas dentro dos limites da democracia, foi muito mais além.

Em Feira de Santana (BA), ao invés de sentarem-se na plateia, assistirem ao filme e contra-argumentarem no debate, militantes do PT e do PC do B, impediram aos gritos a exibição de documentário, “Conexão Cuba Honduras”, do cineasta baiano Dado Galvão, do qual a blogueira participa.

Ou seja, para esses grupos, democracia significa impedir uma pessoa de fazer qualquer coisa, mesmo que seja assistir a um filme. Os radicais estão reproduzindo o Brasil às mesmas práticas da ditadura cubana para com o seu povo. Pergunta-se, será que é este modelo que querem para o Brasil. Como assinala Hélio Schwartsman “Se viver ali fosse bom, ou mesmo tolerável, o governo de Havana não teria passado mais de 50 anos impedindo viagens de cidadãos ao exterior. E não há sucessos na saúde e na educação que compensem a ausência de liberdades tão fundamentais como a de dizer o que pensa ou a de viver num outro país”. (F S P, 20.02.2013, p. A-2).

Yoani ironizou “Um protesto assim contra um convidado do governo cubano não duraria mais do que dois minutos.”. (F S P, 19.02.2013, p. A-14). Depois em São Paulo comentou “Impedir as pessoas de falar não é democracia, é fanatismo” (F S P, 22.02.2013, p. A-17).

Face ao aumento das agressões em Feira de Santana, dois seguranças privados se somaram aos dois já contratados pelos anfitriões (jornalistas e políticos locais) e, a pedido do prefeito José Ronaldo Carvalho (DEM), policiais militares passaram a acompanhá-la.

Na Câmara dos Dirigentes Lojistas da cidade, falou a jornalistas e disse acreditar que os protestos e o “ódio” de manifestantes pró-governo cubano, foram “motivados por terceiros. Desde que me deram o passaporte, nos sites oficiais começaram a me ameaçar, dizendo que chegando ao Brasil, teria uma resposta contundente”. Sánchez negou ser financiada por órgãos ou governos estrangeiros e atribuiu as acusações à irritação do governo com sua autonomia financeira como jornalista e escritora. (F S P, 20.02.2013, p. A-13).

BRASÍLIA

Em 20 de fevereiro, Yoani Sanchez visitou Brasília. A ida à capital foi definida na última hora, a partir de convite do PSDB. As passagens foram pagas pela Câmara, segundo o partido.

A entrada de Yoani na Câmara, no fim da manhã, interrompeu o debate que ocorria sobre a Medida Provisória que prevê desoneração na folha de pagamentos para vários setores.

Sua entrada causou tumulto pelos protestos de militantes que a acusavam de “mercenária” e “agente da CIA”, quanto pelos próprios parlamentares, que bateram boca na sua chegada, e pela aglomeração de jornalistas e seguranças em torno da cubana.

A deputada Erika Kokay (PT-DF), disse ao microfone “Essa Casa não deve repetir atitudes como essa”. Ao ouvir Erika, o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), sugerir que ela fosse a Cuba. A deputada reagiu, acompanhada de Ivan Valente (PSL-SP), que o chamou de “torturador”.

Em frente à sala onde ela era ouvida pelos parlamentares, havia oito ruidosos manifestantes. Pelo menos um deles era servidor da Câmara. Rodrigo Grassi, filiado ao PT, é secretário parlamentar da deputada Erika Kokay (PT-DF).  Ele chegou a gritar com os parlamentares, pedindo a liberação da entrada de manifestantes no plenário.

Requerimento solicitando segurança federal para Yoani entrou na pauta da Câmara, mas teve a aprovação impedida pelo PT e PMDB.

A jornalistas afirmou “um dos objetivos dessa viagem é recuperar parte desses prêmios [que ganhou nos últimos anos], com a intenção de levá-los a Cuba. Não sei como ainda, porque vai ser difícil entrar com ele. Quero utilizar isso como base principal para fundar meu jornal. Tenho a intenção de que esse seria o capital inicial”. A ideia com o jornal é, “testar os limites” da abertura e das reformas. Em Cuba, a maioria dos jornais, revistas e TVs são estatais. Na era Raúl, publicações ligadas à Igreja Católica, como a revista “Espacio Laical” e “Palabra Nueva”, se tornaram os principais veículos de debate sobre reformas com intelectuais de dentro e fora de Cuba. Em janeiro, o canal multiestatal Telesur, passou a transmitir ao vivo por 14 horas, a primeira emissora sem controle estatal cubano absoluto a fazê-lo. Mas o Telesur é de influência majoritariamente venezuelana. (F S P, 21.02.2013, p. A-14).

SÃO PAULO

Em São Paulo, na manhã do dia 21 de fevereiro, em conversa com jornalistas e leitores do jornal “O Estado de São Paulo”, Yoani cobrou do governo Dilma Rousseff um” posicionamento mais enérgico” e” duro” ao abordar o tema de direitos humanos.  “Tem faltado dureza ou franqueza na hora de falar do tema de direitos humanos na ilha. Tem havido silêncios demais. Os povos não esquecem”.

Sobre a repercussão de sua viagem feita ao Brasil afirmou “É a multiplicação por dez do que eu esperava”.

Mais tarde, Sánchez compareceu ao Cine Livraria Cultura, na Av. Paulista e pode assistir a mais um episódio de grosseria e fanatismo. Manifestantes da UJS (União da Juventude Socialista), do Partido Comunista Revolucionário e de outras organizações , aos gritos, o grupo, regularmente inscrito para participar do evento, impediu que parte das respostas da blogueira fosse ouvidas. É essa a democracia que esses radicais querem, igual a Cuba, a democracia do silencia, onde só um lado fala. A agressividade obrigou ao encerramento antecipado da apresentação e ao cancelamento da sessão de autógrafos de seu livro “De Cuba, com Carinho”.

André Tokarski, 29 anos, presidente da UJS e um dos organizadores do protesto, justificou a falta de educação e democracia “Quem defende a democracia e não tolera 20, 30 jovens? Não tivemos direito ao microfone e tivemos de usar nossa voz”.  Pelas regras do evento, a plateia podia fazer perguntas por escrito para a cubana, como é praxe em eventos deste tipo, mas os radicais não se contentaram com isso e preferiram tumultuar o evento. (F S P, 22.02.2013, p. A-17)

RIO DE JANEIRO

Em 24 de fevereiro, Yoani Sánchez, no Rio de Janeiro, teve agenda de turista. Caminhou pela manhã pela orla da zona sul carioca, visitou o Forte de Copacabana, tomou água de coco em quiosque e conheceu o Pão de Açúcar.

Acompanhada pelo deputado federal Otavio Leite (PSDB/RJ), e por três seguranças cedidos pela Secretaria de Segurança do Estado ela tirou fotos com admiradores e foi recebida com beijos e abraços por onde passava e até ganhou um livro de Vinícius de Moraes dado por um fã.

Os manifestantes que a hostilizaram nas demais cidades misteriosamente sumiram. É um sinal de que os atos anteriores tiveram péssima repercussão e por isso foram interrompidos.

No alto do bondinho do Pão de Açúcar, até reclamou dizendo que estava sentindo a falta dos manifestantes. Apenas uma banhista em Copacabana gritou para que ela retornasse a seu país.

Cercada por jornalistas, cinegrafistas e fotógrafos, ela chamou a atenção por onde passou e na maioria das vezes era surpreendida por “parabéns”.

Afirmou “Levo comigo a pluralidade, a diversidade do Brasil e a solidariedade do brasileiro com o povo cubano”. (F S P, 25.02.2013, p. A-12).

O fato de Yoani ter passeado pelo Rio de Janeiro sem nenhum problema demonstra a realidade de que a população brasileira não tem a menor simpatia pelo regime cubano. Demonstra ainda que aqueles que a hostilizaram não passam de uma pequena minoria ideológica, que é barulhenta, mas inexpressiva no contexto da população.

CONTINUÍSMO NA DITADURA CUBANA

Por coincidência, durante a visita de Yoani ao Brasil foi escolhido o novo Chefe de Estado em Cuba e a escolha apenas confirmou que a ditadura cubana continua firme e forte.

Os 612 deputados do Partido Comunista, o único legal no país, foram chancelados nas urnas em fevereiro e votaram para escolher os integrantes do Conselho de Estado, a cúpula do Executivo.

Raul Castro surpreendeu jornalistas em 22 de fevereiro ao falar em renúncia: “Vou renunciar Já vou completar 82 anos. Tenho direito de me aposentar já. Não acreditam?” Aparentemente ele falou em tom de brincadeira. (F S P, 23.02.2013, p. A-14).

Era brincadeira mesmo. Em 24 de fevereiro Raul Castro, 81 anos, foi ratificado no poder por mais cinco anos e a única novidade é que anunciou que esse será seu último mandato. Na verdade esta afirmação também não é novidade nenhuma porque ele mesmo já havia proposto em 2011 que os cargos do Executivo se limitem a dois mandatos de cinco anos, até fevereiro de 2018. Outra limitação é a própria idade de 81 anos. “E ele vai governar até 86 anos e pelas suas próprias palavras é impossível que ele e os “históricos” sigam governando depois de 2018, pela” lei da vida”.

Reforçando ainda mais o caráter ditatorial do regime, foi escolhido um novo número dois do regime, Miguel Diaz-Canel, engenheiro elétrico, que seria seu provável sucessor, ou seja, Raul Castro decidiu que continua por mais cinco anos e já indicou quem vai ser o seu sucessor. A novidade é que Diaz Canel não lutou em Sierra Maestra e não é somente um  burocrata do partido. Foi secretário-geral do Partido, uma espécie de governador em Villa Clara e Holguin, e saiu-se bem nesses dois cargos. Dias-Canel substituiu José Ramón Machado Ventura, de 82 anos, um “histórico”, que chegou ao poder com a vitória guerrilheira em 1959.

Fora esta nova indicação, todos os demais cargos do Conselho de Estado foram ratificados, ou seja, a mudança é mínima.  A média de idade dos participantes da cúpula do governo é de mais de 70 anos.

O sistema cubano, além da centralização do poder e dos principais cargos nas mãos dos “históricos”, não tem aberto espaço a novos nomes e ao contrário, são frequentes os episódios de expurgos de lideranças mais jovens acusadas de “traição”.

Em 2009, o vice-presidente Carlos Lage, 61 anos e o chanceler Felipe Perez Roque, 47 anos foram retirados dos postos sob a acusação de traição.

O presidente da Assembleia, Ricardo Alarcón, 75 anos, que ficou no posto por 20 anos, foi substituído por Esteban Lazo, de 69 anos.

Raúl Castro discursou e deixou claro que as suas reformas econômicas liberalizantes são limitadas:” A mim não elegeram presidente para restaurar o capitalismo”. (F SP, 25.02.2013, p. A-12).

JOVEM PERIGOSA

Por que Yoani, com 37 anos, 55 quilos e 1,62 metro assusta tanto o regime cubano?  Ela comanda algum grupo guerrilheiro com o objetivo de derrubar a ditadura cubana? Não, ela é apenas uma jovem que escreve em blog que é censurado no país e que circula graças á colaboração de amigos no exterior. Pelo desespero do governo cubano com sua viagem ao exterior fica evidente o poder da palavra.

Com um computador velho e ajuda de voluntários que recebem seus textos por e-mail e os publicam traduzidos em vinte idiomas ela rompeu os controles, virou inimiga do regime e está incomodando o governo mais do que terroristas com armas e canhões.

Ela já foi sequestrada, torturada e acusada de praticar o mais grave dos crimes punidos pela ditadura cubana: defender a liberdade.

Yoani é mesmo um perigo pelo que fala. Churchill já havia alertado para os perigos do totalitarismo:” Os ditadores recorrem às medidas mais drásticas para evitar que as pessoas pensem por si sós. Um camundongo, um ratinho de nada de pensamento provoca pânico nos mais poderosos potentados”.  Yoani assim caracteriza o regime cubano “Venho de um Estado onde ter opinião é equivalente à traição”. (Revista Veja, 27.02.2013, p. 11).

Para ela o governo cubano e os castristas a temem porque “Eles temem a palavra, o argumento e o raciocínio lúcido dos que estão em Cuba são críticos do regime, ou tem alguma opinião diferente da do Partido Comunista. O governo simplesmente tem medo de que a comunidade internacional nos escute... Muita gente em outros países crê que o nosso povo é totalmente a favor do governo. Não somos todos comunistas. Não usamos farda verde-oliva. Se a comunidade interacional enxergar a pluralidade que existe entre nós, estaremos mais próximos da mudança... a propaganda estatal, de ataques aos Estados Unidos e ao imperialismo, criou um sentimento contrário ao esperado. A maioria dos jovens cubanos é fascinada pelos americanos. Eu até acho ruim esse enaltecimento de outro país, mas é uma realidade”. (Revista Veja, 27.02.2013, p. 58).

INTERNET SEM INTERNET

Em 2010 foi autorizada pelo governo a venda de CD piratas que foi incluída entre as 178 profissões autônomas permitidas pelo Estado: vendedor de discos compactos.

Desde então, tudo passou a ser vendido. Filmes estrangeiros e cubanos fora de circuito, séries americanas, telenovelas brasileiras ou no ar da TV estatal, programas de auditório nos canais de Miami, noticiário ou treggaetons “proibidões”, com letras ainda mais sexualmente explícitas do que o usual no ritmo que mistura reggae, hip hop, salsa e bachata.

Um CD pirata custa quase sempre o equivalente a R$ 2. Se for um programa mais difícil de encontrar pode sair pelo triplo.

No Malecón o grupo conta que a moda é comprar o “pacote da semana”, da TV a cabo, com brindes promocionais. Tudo capturado via “antenas” parabólicas clandestinas que captam as emissoras de Miami. É só o cliente ligar que com atraso de uma semana recebe em sua casa um disco rígido com a programação completa que permite passar para o computador ao preço de 5, 6 CUC [pesos cubanos conversíveis, algo entre R$ 10 e R$12].

Yoani Sanchez em sua passagem pelo Brasil declarou que “Depois de inventar o picadinho de carne sem carne, os cubanos inventaram a internet sem internet”. A rede off-line é complementada pelo envio coletivo de SMS para convocar para festas, por exemplo.

Os cubanos são cautelosos. Alexandre Solis afirma “Todo tipo de informação se repassa. Com dinheiro, você pode fazer tudo em Cuba. Mas ninguém quer se meter com a política”.

A conexão discada em Cuba, adquirida no mercado negro, que é muito lenta porque não há banda larga, custa de R$ 1,50 a R$ 4 por hora. Nos hotéis, a hora de conexão pode chegar a R$ 14, para um salário médio em Cuba de R$ 40.  Funcionários públicos que tem conexão melhor por serem administradores de rede, ganham a vida repassando conteúdo.

Ninguém tem endereço de e-mail, nem conta no Facebook, não acessam sites de vídeo na Internet por ser muito lenta, mas via Bluetooth, sem custo, sem rastro,  megabytes de vídeos, livros, música são repassados pelo celular. Outros elementos são pen-drives, cartões de memória e discos rígidos.

Em função do embargo norte-americano, a empresas que negociam com Cuba, o país jamais conseguiu se conectar a cabos de fibra ótica da Flórida ou de vizinhos caribenhos. A conexão é via satélite, meio mais caro. Em 2012 várias ferramentas do Google, como o Analytics, serviço gratuito de análise de páginas pela Internet foram proibidas em Cuba pela empresa que citou leis americanas como motivo para a restrição.

Em 2007 foi anunciada a construção de um cabo de fibra ótica ligando a Venezuela a Cuba, passando pela Jamaica, ao custo de R$ 144 milhões. Somente em 2012 o cabo entrou em operação, mas segundo a estatal Etecsa, empresa cubana de telefonia “A operação do cabo não significará que automaticamente se multipliquem as possibilidades de acesso. Será necessário executar investimentos na infraestrutura interna de telecomunicações e aumentar os recursos em divisas destinados a pagar o tráfego de internet”. (F S P, Ilustríssima, 3.3.2013, p 4).

Tomado de ADMINISTRADORES.COM.BR

 
ENTREVISTA A YOANI SÁNCHEZ, DA REVISTA BRASILEIRA 'ÉPOCA' PDF Imprimir E-mail
Escrito por Indicado en la materia   
Miércoles, 13 de Marzo de 2013 12:24

A conversa com a blogueira cubana Yoani Sánchez, de 37 anos, começa com uma brincadeira: “Aqui posso falar tranquila, não?” Depois de cinco anos de frustrados pedidos ao governo comunista para viajar ao exterior, Yoani escolheu o Brasil para iniciar seu giro de cerca de 80 dias por mais de dez países da América Latina e Europa. Na estada de uma semana por aqui, foi hostilizada diversas vezes por manifestantes de grupos de esquerda, que tentaram impedi-la de falar ou responder as suas perguntas. A exibição de um documentário em que é o tópico central, em Feira de Santana, Bahia, e o relançamento de seu livro De Cuba, com carinho (Editora Contexto), em São Paulo, foram interrompidos por causa da balbúrdia. A ÉPOCA, Yoani cobrou uma investigação sobre esses episódios e disse suspeitar da influência direta do regime cubano na organização dos protestos. Ela falou também sobre seu futuro numa possível Cuba democrática e por que não sonha ser presidente de seu país. “Falta-me cinismo para a política.” Mas também falou de temas amenos, como seu longuíssimo cabelo, que definiu como "livre e selvagem como eu".

DE CARA LIMPA Yoani Sánchez posa para foto em São Paulo. Sua aparência despojada gerou comentários no Brasil, especialmente seu cabelo, segundo ela uma expressão de liberdade (Foto: Filipe Redondo/ÉPOCA)

ÉPOCA – Que mensagem a senhora pensava em trazer ao Brasil? Conseguiu transmiti-la?
Yoani Sánchez –
Uma mensagem de esperança. A sociedade civil em Cuba está alcançando uma maturidade que vale a pena mostrar ao mundo. É uma Cuba plural, porque às vezes os estereótipos nos fazem parecer uma ilha verde-oliva (referência à cor dos uniformes militares). Queria dizer ao Brasil: “Somos tão plurais e diversos como vocês, só precisamos de um marco legal para expressar essa pluralidade.” Acho que consegui colocar minha voz, apesar de ter sido interrompida muitas vezes.

ÉPOCA– E por que o Brasil como primeiro destino?
Yoani –
Porque gosto de ser desafiada (risos). Durante os anos em que me foi negado sair de Cuba, vieram do Brasil as maiores manifestações de apoio, inclusive nos momentos em que já tinha perdido as esperanças. Tinha de vir ao Brasil primeiro para receber o abraço dessas pessoas.

ÉPOCA– Não é irônico o fato de que este mesmo Brasil que apoiou tanto sua vinda também a hostilizou?
Yoani –
Nunca pensei em encontrar um país homogêneo racial, cultural ou religiosamente, muito menos ideologicamente. Não esperava um país em que todos pensassem igual.

ÉPOCA– Mas a senhora imaginava ser recebida como foi?
Yoani –
Imaginava. Dias antes de viajar, vários blogs oficialistas de Cuba, quase sempre anônimos, já advertiam que me dariam uma resposta contundente no Brasil. Talvez para vocês seja algo pouco comum alguém ser impedido de falar num evento público, mas para mim não é. Desde pequena, testemunho manifestações de ódio em Cuba. Me dá um pouco de pena dessas pessoas (os manifestantes brasileiros). Elas têm muito poucos argumentos. Estava muito aberta ao debate, mas o que encontrei do outro lado foi o extremismo, com gritos e palavras de ordem. Foi um ódio excessivo. Muitos deles nem sequer me conheciam ou leram meus textos. Repetem clichês que não se ajustam à realidade.

>>"Posso ter muito pouco, porque o mais importante está desta pele para dentro"

ÉPOCA - E a sensação de ter sido escoltada pela Polícia Legislativa no caminho para a Câmara dos Deputados?
Yoani -
Foi a primeira vez que passei por isso. E ocorreu com uma cidadã pequenininha, que não tem nenhuma importância, como o governo cubano diz. É paradoxal. Se não sou nada importante, por que me proteger tanto? Estamos falando de uma pessoa que nunca militou por nenhum grupo político, nunca agrediu ou matou ninguém, mas apenas põe suas ideias em um blog. É realmente sintomático, como prova da força que tem a palavra.

ÉPOCA – Alguns manifestantes eram ligados ao PT, o partido da presidente Dilma Rousseff. O governo brasileiro deveria emitir uma posição sobre esse episódio?
Yoani –
Quero evitar me envolver em temas partidários ou sugerir aos brasileiros o que têm de fazer. Mas não há dúvida de que os fatos ocorridos deveriam ser investigados. Os militantes do PT precisam de uma explicação sobre por que alguns colegas impediram atos como a exibição de um filme ou o lançamento de um livro. Se eu militasse num partido e ocorresse algo assim, pediria explicações. Vale a pena investigar, porque não acho que as razões sejam apenas o rechaço a meus textos. Evidentemente, havia alguém atiçando os ódios. É preciso saber quem, o quê, a que distância e de onde é essa entidade que está fazendo isso.

>>Exibição de documentário com Yoani Sánchez é suspensa por manifestações

ÉPOCA– Quem é essa entidade?
Yoani –
Não tenho nenhuma prova. Mas tudo tem o signo muito marcante do tipo de ação que faz o governo do meu país contra os dissidentes.

ÉPOCA– Seria alguma iniciativa da embaixada de Cuba no Brasil?
Yoani –
Como disse, não tenho provas, mas não acharia estranho. Em Feira de Santana, todos os manifestantes tinham o mesmo documento, impresso da mesma forma. É claramente um sinal de que alguém lhes entregou. E os pontos desse documento se parecem assombrosamente com aqueles com que o oficialismo me ataca.

ÉPOCA– Que pontos?
Yoani –
Meu suposto vínculo com a CIA, que já é quase uma piada. Outro são os questionamentos sobre o sequestro que sofri em 2009 (ela afirma ter sido agredida e levada de carro por agentes do governo). É o mesmo roteiro de ataques que costumo receber em Cuba. Já estou acostumada a isso e não me traz danos emocionais, mas me incomoda não me darem o direito de me explicar. Sou uma pessoa da palavra. Essas perguntas são feitas para que eu não as responda. São para me difamar.

Evidentemente havia alguém atiçando os ódios. tudo tem
o signo marcante do tipo
de ação que faz o governo
do meu país contra os dissidentes

ÉPOCA– Um militante disse num debate na TV que não houve coerção em Feira de Santana porque não houve violência física. O que a senhora acha desse raciocínio?
Yoani –
Em minha chegada ao Brasil, no aeroporto do Recife, uma pessoa chegou a puxar meu cabelo. Em Feira de Santana não houve violência física contra mim, graças à intervenção dos organizadores, que me cercaram e me colocaram numa sala até que os ânimos serenassem. Mas o clima ali era de linchamento. A questão não é se houve agressão ou não. Impediram uma pessoa de se expressar. Isso, sim, é coerção, algo muito autoritário. Escutar o outro é um princípio básico da democracia e da convivência pacífica. A lógica foi: “Não estou de acordo com você. Cale-se”.

ÉPOCA – Tanto ativistas da esquerda como parlamentares de partidos da oposição se aproveitaram sua figura para defender seus interesses. Isso a incomoda?
Yoani –
Não. A vida é aproveitar-se do outro. O governo de Cuba se aproveita de mim para dizer ao mundo que há uma democracia, porque Yoani Sánchez pode escrever em seu blog. Prefiro a manipulação por dizer algo do que por não dizer nada. Se minha opinião serve a alguém, podem tomar minhas palavras sem problema. Sou open source, dou licença gratuita para todos. O que não faço é me alinhar ao pensamento de um partido. Na saída da Câmara, um jornalista me perguntou se eu sabia que alguns deputados que me receberam eram muito conservadoras em temas como o casamento gay. Fui madrinha do primeiro casal gay de Cuba, mas uma das minhas filosofias de vida é a transversalidade. Quero ter contato com todas as forças políticas. Sou uma pessoa de conciliação. Não houve mais gente do PT na Câmara porque não quiseram ir. O embaixador cubano (Carlos Zamora) também foi convidado, mas não foi.

>>Artigo exclusivo: O relógio da ditadura em Cuba se aproxima da meia-noite

ÉPOCA - Sua visita mudará o “silêncio cúmplice” do Brasil ante a ditadura cubana, usando um termo que a senhora escreveu em seu blog?
Yoani -
Não quero ter a pretensão de pensar que a simples vinda de uma cidadã a um país enorme como o Brasil mudará a política externa. Mas todas as pessoas que me encontraram nas ruas por aqui me trataram com muito carinho e palavras de estímulo: “Siga”, “resista”, “leio seu blog”, “abaixo a ditadura”. Fora os extremistas que desejam sustentar um cenário utópico de Cuba, tenho a sensação de que o povo brasileiro sabe que Cuba é um Estado sem direitos para os cidadãos. Se um povo começa a mudar sua opinião sobre um assunto de fora, a política exterior terá que mudar um dia.

ÉPOCA– A senhora ficou conhecida por lutar pelo seu direito de viajar ao exterior. Isso conseguido, seu discurso será mais concentrado agora na queda do regime? Quais são seus próximos passos?
Yoani –
Creio na evolução. Não posso ser a mesma Yoani de 2007 (ano em que lançou o blog Generación Y). Pretendo abrir um jornal em Cuba com os recursos que conseguirei levantar nas viagens por vários países. Ainda não é possível de maneira legal, mas tratarei de achar brechas para conseguir. Não abandonarei o blog, que é minha terapia particular. Mas claro que preciso mudar o discurso, não ficar somente na denúncia, mas sim propor soluções. Minha proposta principal se resume a despenalizar a dissidência. Cobrar que o governo tenha o compromisso de que nenhum cidadão será punido por expressar qualquer ideia. Conheço muitos economistas, sociólogos, gente que quer ajudar a melhorar o país, mas tem medo de passar pela mesma situação de Yoani Sánchez ou dos prisioneiros da Primavera Negra (como ficou conhecido o movimento de repressão do regime em 2003, que resultou na prisão de 75 pessoas). Se houver isso, as propostas aflorarão.

ÉPOCA– A ditadura não durará para sempre, e um dia haverá eleições livres em Cuba. A senhora pensa em se candidatar à Presidência quando isso ocorrer?
Yoani –
Não tenho a menor vontade. Quando uma figura se destaca em Cuba, nos acostumamos a depositar nela todos os desejos de mudança, quase como uma entidade messiânica. Isso nos fez entregar nosso destino nas mãos de Fidel Castro. Não gostaria que isso se repetisse na Cuba do futuro. Prefiro que o governante do país com que sonho seja um administrador sem nenhum carisma, que não tenha a auréola do salvador da pátria. Não tenho intenção de me candidatar porque tenho uma responsabilidade maior como jornalista. Quero ser incômoda para este governo e para o próximo. Tenho tanto a fazer que não dá para embarcar em uma carreira política.

ÉPOCA – Mas seus admiradores no exterior esperam por isso...
Yoani -
Muita gente já me abordou sobre isso, sim, mas nunca estive interessada. Não é que digo “não” agora e “sim” depois. Falta-me cinismo para a política. Eu seria um desastre. Nas primeiras duas semanas, diria tudo tão honestamente que isso me causaria todos os problemas do mundo. Que outros se ocupem da política com minúscula. Vou me preocupar com a política com maiúscula.

ÉPOCA - A senhora se incomoda de não ser muito conhecida em Cuba?
Yoani -
Não sou a pessoa indicada para falar disso, pois pareceria um ato de imodéstia. Mas cada vez que saio às ruas do meu país, seja em Havana ou em um pequeno povoado, muita gente me reconhece. Como? Pela forma como a informação se difunde em Cuba. Há o fenômeno das antenas parabólicas ilegais, que transmitem emissoras da Flórida, do México, onde veiculam reportagens sobre mim. Mas minha intenção não é ser conhecida. Não sou política, não busco apoio popular. A fama é efeito colateral, não resultado do meu trabalho. Não sou uma pop star nem quero competir em popularidade com as novelas brasileiras, transmitidas três vezes por noite na televisão cubana. Sobre eu não ser conhecida, é preciso ir a Cuba e perguntar.

ÉPOCA - Sobre as novelas brasileiras, a senhora já escreveu que elas têm uma influência grande na população ao mostrar situações em que um personagem sai da miséria e realiza seus sonhos. As novelas daqui já fizeram mais que nosso governo para despertar a consciência do povo cubano?
Yoani -
Acho que são melhores embaixadoras da liberdade. Mas as novelas têm um duplo papel contraditório. Se por um lado trazem informação e oxigênio para mostrar aos cubanos que há outras realidades e não somos o paraíso, por outro funciona como um sonífero. Muita gente compra caixas com novelas inteiras no mercado informal e fica o dia inteiro na frente da TV.

ÉPOCA - A senhora disse que “falta dureza” do Brasil quanto aos direitos humanos em Cuba. Essa é questão mais delicada envolvendo a relação dos dois países?
Yoani -
O governo brasileiro encampou a luta contra o embargo americano a Cuba, mas nosso maior problema não é o conflito entre Cuba e Estados Unidos, mas o conflito Cuba e seus cidadãos. Recomendaria, muito humildemente, complementar a política externa para Cuba com a questão da ausência de liberdade de expressão, de associação. Senão, parece apenas um assunto de xadrez político. Se estão pressionando pelo fim do embargo, muito bem, mas por que não pressionar pelo fim do bloqueio que o governo impõe a nós mesmos?

ÉPOCA - Que impressão a senhora levará do Brasil?
Yoani -
Fabuloso. Encontrei muita pluralidade. Confirmei a frase que um amigo me disse: “Os brasileiros são como os cubanos, mas livres. Todos os rostos que vi me lembram os de Cuba, e também a gestualidade. Mas, ao falar com os brasileiros, me espantei com a naturalidade com que falavam de temas políticos. No aeroporto do Recife, fiquei em um escritório à espera do carro para me levar dali porque os manifestantes poderiam bloquear minha passagem. Ali, uma controladora de voo falou de corrupção e falta de transparência no Brasil de uma forma que seria impensável em Cuba. Lá, nós murmuramos. Se vamos falar de Fidel Castro em local público, fazemos um gesto de alguém barbudo. Se o assunto é Raúl Castro, puxamos os olhos, por causa de seus traços achinesados. Ninguém fala em voz alta de política.

ÉPOCA - As pessoas no Brasil estão falando sobre seu cabelo. Li um post antigo no seu blog sobre o fato de que sua irmã ria da senhora por causa do seu “cabelo de brasileira”, pois parecia com a da cantora Maria Bethânia.
Yoani -
Sim. Quando era menina, minha mãe dizia meio de brincadeira, meio sério. Era a época em Cuba, no início dos anos 80, que se ouvia muito a música brasileira, como Maria Bethânia, Gal Costa, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Milton Nascimento. Me parecia muito bonito os cabelos que eles tinham, um cabelo livre. Deixo crescer meu cabelo, que é bastante selvagem. Mas não há uma razão especial. Já tive todos os tipos possíveis de cabelo. Uma vez tive o cabelo raspado, durante dois anos da minha vida.

ÉPOCA - Quando?
Yoani -
De 1992 a 1994.

ÉPOCA - Mas por quê?
Yoani -
Bom, primeiro porque era a época de Sinéad O’Connor (cantora irlandesa que tinha o cabelo raspado) e estava na moda. Mas também naqueles anos em Cuba havia uma crise material, econômica e financeira tão forte que comprar xampu ou conseguir xampu para o cabelo era quase impossível. Sob essa condição de colapso material, surgiram por todos os lados muitas epidemias de piolho. Bom, então decidi raspar o cabelo para evitar todos esses problemas, a compra de xampu e a aplicação (de remédios) para os piolhos. Foi muito difícil, porque na rua as pessoas gritavam muitas coisas para mim.

ÉPOCA - O quê, por exemplo?
Yoani -
Me chamavam de lésbica. Porque era uma época que em Cuba não estavam acostumados com o cabelo raspado. Me agrediam muito verbalmente. E um belo dia deixei o cabelo crescer e...

ÉPOCA - Aqui perguntam “por que ela não corta o cabelo”?
Yoani -
Já me perguntaram se eu tinha uma promessa... Não, não é isso. Ele é livre e selvagem como eu. Não há cuidados especiais. Não me penteio muito. Não me maquio. Não tenho tempo para isso. Não pinto as unhas. Ele (o cabelo) está aí e tem seu espaço. Eu tenho o meu. Nós nos respeitamos (risos).

ÉPOCA - A senhora não é uma pessoa muito vaidosa, neste sentido?
Yoani -
A minha vaidade se reflete em outra coisa. Mais que a vaidade física, não passo minha vida vendo as coisas que não escolhi, compreende? São coisas que não selecionei para a minha vida. Uma é o meu corpo. Veio assim...

Tomado da REVISTAÉPOCA.GLOBO.COM

Última actualización el Miércoles, 13 de Marzo de 2013 13:23
 
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