Artigos: Brasil
Tática de Lula: gritar que é o próximo para ver se não é o próximo. Ou: Lula está com medo! PDF Imprimir E-mail
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Sábado, 20 de Junio de 2015 16:12

Por Reinaldo Azevedo.-

Escrevi ontem um post cujo título é este: “Primeira pergunta já tem resposta: ‘Quando vão pegar a Odebrecht?’. A segunda segue sem resposta: ‘Quando vão pegar Lula?’”. Leio agora na Folha que Lula diz a aliados que é ele o próximo alvo da Lava-Jato. O alarme soou no Palácio do Planalto. Se “pegarem” Lula, é claro que o governo Dilma vai junto. O ex-presidente está recorrendo a uma tática: ao anunciar que pretendem atingi-lo, denuncia uma suposta perseguição, buscando, então se proteger. Será que vai ser bem-sucedido? Vamos ver.

A Operação Lava-Jato segue, afinal, com o seu mistério, não é? Os políticos mais graduados que estão sob investigação são o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), hoje, respectivamente, presidentes da Câmara e do Senado. À época em que teriam cometido as irregularidades de que são acusados, nem exerciam essa função.

Se a Lava-Jato fosse um romance policial, seria de péssima qualidade porque o roteiro é inverossímil a mais não poder. Que se cometeram crimes em penca, não há a menor dúvida. Um simples gerente de Serviços se dispôs a devolver US$ 97 milhões. Naquele ambiente de esbórnia, dá para imaginar o que não terão feito os que tinham o mesmo caráter que ele, mas com mais poder.

Quando se olha a lista das pessoas sob investigação, os leitores desse romance seriam convidados a acreditar que um esquema multibilionário de fraudes foi urdido por uns dois ou três políticos à época de médio porte, um monte de parlamentares de terceira linha — a maioria ligada ao PP, um partido que é periferia do poder, um grupo enorme de empreiteiros malvados mais alguns diretores larápios. E pronto! Desde que a operação começou, em março do ano passado, pergunto: CADÊ O PODER EXECUTIVO? Não existe. É impressionante, mas nem José Sérgio Gabrielli, presidente da Petrobras no período daquela soma de desatinos, é investigado. E olhem que poucos presidentes das estatal foram tão autocráticos como este senhor.

É evidente que essa história não fecha! Então as empreiteiras teriam se unido num cartel para assaltar a Petrobras. Para que prosperassem no seu intento, tinham de contar com a colaboração de diretores safados. Eis que os safados estão lá, do outro lado do guichê, devidamente nomeados pelo… Poder Executivo, certo? Tudo coincidência, né? As empreiteiras cartelizadas teriam tido a sorte de os políticos terem nomeado justamente os larápios de que precisavam. Tenham paciência! Aí se descobre que boa parte dos desvios era carreada para partidos políticos. Mas nada de o Executivo entrar na história.

De volta a Lula
É claro que essa narrativa não para em pé, Santo Deus! E é justamente essa inverossimilhança que deixa Lula em pânico. Ele sabe que ninguém com um mínimo de miolos aposta que tudo não passou de um conluio entre empreiteiros, servidores corruptos e políticos sem importância. Algo da magnitude do petrolão não se faz sem a colaboração de alguém — ou “alguéns” — com efetivo poder no governo e na Petrobras.

VEJA

Por Reinaldo Azevedo

 
Como promover a democracia sem falar de democracia PDF Imprimir E-mail
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Jueves, 02 de Julio de 2015 11:57

Por .-

Um fio conecta as negociações em Viena sobre o programa nuclear doIrã e a reabertura das embaixadas dos Estados UnidosCuba, que o presidente Barack Obama anuncia nesta quarta-feira em Washington. O espírito que inspira ambas as iniciativas é o mesmo. Em 2008, durante a campanha eleitoral que o levou à Casa Branca, Obama prometeu dialogar com países inimigos. E cumpriu a promessa. A Casa Branca espera que o diálogo leve à democratização de Cuba e a uma melhora das relações com o Irã que ajude a estabilizar o Oriente Médio.

Os Estados Unidos romperam relações diplomáticas com Cuba em 1961, após a revolução. Com o Irã, o rompimento aconteceu em 1980, depois de outra revolução. Em ambos os casos, a superpotência da Guerra Fria perdeu um parceiro de valor estratégico e viu como caía na órbita de movimentos hostis, o comunismo e o islamismo. Em 1977, Cuba abriu um departamento de interesses em Washington que fazia algumas funções da embaixada. A antiga embaixada do Irã em Washington continua vazia.

Apesar das diferenças, em Teerã e em Havana, em Washington e em Viena, o resultado hoje é o mesmo: a eficácia da doutrina Obama

As diferenças entre o degelo cubano e o iraniano são notáveis. EUA e Cuba retomam hoje as relações diplomáticas. Obama se reuniu com o presidente cubano, Raúl Castro. Certamente, o momento em que o mundo esteve mais perto do apocalipse atômico foi a crise dos mísseis em Cuba, mas faz anos que deixou de ameaçar os EUA ou seus aliados.

O Irã é diferente. Os parceiros dos EUA no Oriente Médio veem no Irã um perigo para a estabilidade do Oriente Médio, uma das regiões mais instáveis do planeta. As potências mundiais suspeitam que o país quer fabricar a bomba atômica. Sim, o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, e seu homólogo iraniano, Javad Zarif,estão há um ano e meio conversando, mas a possibilidade de que os EUA e o Irã retomem as relações diplomáticas é remota. Em 29 de maio, o Departamento de Estado retirou Cuba da lista de países que patrocinam o terrorismo. O Irã continua na lista.

Apesar das diferenças, em Teerã e em Havana, em Washington e em Viena, o resultado hoje é o mesmo: a eficácia da doutrina Obama.

Os críticos denunciam o perigo de fazer concessões a regimes teocráticos ou autoritários. Mencionam os opositores e dissidentes perseguidos no Irã e em Cuba. Alertam que a imagem do presidente ou seu secretário de Estado confraternizando com seus líderes os reforça e legitima. É, segundo esse ponto de vista, a realpolitik em sua pior versão: o realismo que se esquece dos valores democráticos e dos direitos humanos e acaba prejudicando os interesses nacionais dos Estados Unidos. A democracia não está na agenda das negociações com Cuba nem com o Irã.

Mas a democracia, segundo Obama, não chega com uma varinha mágica. Nem com bombas. Wandel durch Annäherung, ou a mudança através da aproximação, era a frase que definia a Ostpolitik, a política para o Oriente do chanceler alemão Willy Brandt. Não era preciso cortar laços com a Alemanha Oriental e com o bloco soviético: a esperança era de que, com a abertura ao outro bloco, eventualmente o Muro cairia (a discussão ainda está em aberto: no final, foi a combinação de abertura diplomática com os mísseis Pershing).

Uma ideia semelhante impulsiona a doutrina Obama. A Casa Branca não acredita que Cuba se transforme em um Vietnã ou em uma China do Caribe, uma economia capitalista com um regime autoritário: a proximidade geográfica e cultural com os EUA a diferencia dos países asiáticos. Segundo esse argumento, o comércio e o turismo norte-americanos devem abrir as janelas, arejar a ilha e, no final, precipitarão a mudança.

Com o Irã não se fala sobre direitos humanos e democracia. A negociação limita-se ao programa nuclear iraniano. Mas Obama está convencido de que as consequências de um acordo o transcendem. "Um acordo nuclear consegue muitas coisas ao mesmo tempo", disse seu assessor Ben Rhodes à revista The New Yorker. "Potencialmente poderia abrir a porta a outro tipo de relação entre os Estados Unidos e o Irã que, em nossa opinião, seria muito saudável para a região."

Em Cuba e no Irã, Obama espera que as mudanças pragmáticas provoquem transformações duradouras. O acordo com Cuba está fechado. Em Viena, os negociadores estipularam uma semana, até terça-feira, para concluir um acordo que resultaria em duas semanas intensas nos EUA. Um fio conecta a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo e a reforma do sistema de saúde de Obama — aprovados pela Suprema Corte na semana passada — com o degelo com Cuba e com o Irã. Os EUA estão mudando. Seu lugar no mundo, também.

EL PAIS; ESPANHA

 
A responsabilidade das oposições PDF Imprimir E-mail
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Miércoles, 08 de Julio de 2015 12:25

Por Fernando Henrrique Cradoso.-

Diante da paralisia governamental, da expansão incontrolada da ação legislativa, da recessão econômica e do ativismo da Justiça, vê-se muita cobrança: e as oposições e o PSDB? Sumiram? Que farão com os mais de cinquenta milhões de votos que receberam? Compreende-se a angústia, mas é preciso distinguir os papéis da oposição e os do Governo.

Como no jogo de xadrez, o Governo joga com as pedras brancas, as iniciativas têm que partir dele. Tomou algumas no desespero, para enfrentar as agruras financeiras. Ao tomá-las foi buscar quadros e medidas no arsenal da oposição. Quer isso dizer que a oposição deve ficar paralisada? Não.

Política econômica é questão de dosagem e de credibilidade. A dose parece excessiva e todo esforço fiscal pode se esvair na falta de atividade econômica que encolhe a arrecadação. Segundo, sem um horizonte de esperança, qualquer ajuste pode ser letal.

Com este Governo não há recuperação de credibilidade à vista, pois o cristal se quebrou. E os escândalos de corrupção revelados diariamente se encarregam de corroer qualquer elo de confiança que o Governo queira tecer.

Cabe às oposições mostrar no dia a dia, e não só no Congresso, que o sofrimento do povo é consequência da ação desatinada dos governos de Lula e Dilma – da dupla e não só da última – que desdenharam das boas práticas de gestão do Estado. Só na Petrobras, os prejuízos causados por decisões erradas para atender a pressões políticas chegam a 34 bilhões de reais, fora os seis bilhões de propinas! Que dizer do desrespeito sistemático da Lei de Responsabilidade Fiscal. É prova de imprudência no uso do dinheiro público.

É preciso reavivar a memória do povo, a cada instante, para mostrar que este ajuste violento não corresponde ao que foi pregado pelo PSDB, não é “o que o Aécio faria”. O ajuste vai cair nos ombros da população. O aumento de impostos pega todos, empresários e consumidores, desemprego e reajustes salariais abaixo da inflação pegam os trabalhadores. A alta das taxas de juros em doses excessivas aumenta a dívida pública e dificulta o próprio ajuste. Estas medidas podem eventualmente controlar a inflação, mas reduzem a massa salarial e diminuem o consumo. Como o Governo não corta despesas, a retomada do crescimento – se houver – terá sido conseguida a enorme custo para o povo.

O refrão das oposições deve ser: chegamos a tais medidas e ao descalabro atual porque os governos lulo-petistas foram irresponsáveis, não se preocuparam em controlar o gasto público e enganaram o povo, enveredando pela megalomania. Os royalties do pré-sal, diziam, vão resolver os problemas da educação, faremos ao mesmo tempo o trem bala, a transposição do São Francisco, a Norte-sul e a Transnordestina, sem falar nos 800 aeroportos! Concessão de serviço público é coisa de vende-pátria neoliberal. Daremos empréstimos no FIES e no Minha Casa Minha Vida, as bolsas acomodarão os miseráveis e o BNDES dará subsídios em abundância aos empresários. O Tesouro pagará a farra.

Tanto pior, melhor? Não. Anotada e registrada a responsabilidade política do petismo, as oposições, em particular o PSDB, têm compromissos com a nação. Nada justifica arruinar ainda mais o futuro, votando pela derrubada do fator previdenciário. Nada explica apoiar aumentos de gasto que no futuro serão pagos com mais impostos, mais inflação e mais ajustes. Em suma, a oposição deve criticar as políticas petistas e não se confundir com elas. Não deve, porém, votar contra os interesses da nação.

Espera-se mais das oposições. Espera-se que apresentem sua visão de futuro, apontando um rumo ao país. Espera-se que se comprometam com a construção de uma economia de baixo carbono, impulsionada pela inovação, regida por regras claras e estáveis, com agências regulatórias independentes, mais e melhor integrada ao mundo e às cadeias globais de valor.

Espera-se que defendam a re-industrialização do país, sem hesitar na crítica a políticas canhestras de conteúdo nacional que, sob a pretensão enganosa de estimular a produção local, acabam por isolar o Brasil e condená-lo à obsolescência tecnológica.

Espera-se que façam da educação não um slogan, mas de fato uma prioridade do Estado e da sociedade, que tenham a coragem de dizer que, embora avançando, o Brasil está ficando para trás em relação a países comparáveis ao nosso, que, frente à sombra que esse quadro projeta sobre o futuro do país, não receiem enfrentar dogmas e pressões corporativas que dificultam reformas e inovações indispensáveis a um salto de qualidade em matéria de educação.

Espera-se das oposições que sejam progressistas também no campo comportamental: que não defendam a redução da maioridade penal, mas sim a extensão da pena dos menores infratores em dependências que sejam condizentes com a dignidade humana; que apoiem como legítimo e justo o casamento entre pessoas do mesmo sexo; que não fujam ao debate sobre as drogas, que não temam proclamar que o encarceramento dos usuários é parte do problema e não da solução; que sejam assertivas na luta pela igualdade de gênero e contra o preconceito e a discriminação racial, com o uso adequado de cotas e demais medidas compensatórias; e que não aceitem retrocessos legais na questão das terras indígenas.

Espera-se das oposições, sobretudo, que reafirmem seus valores democráticos. Que digam, em alto e bom som, ser possível e necessário atuar contra a deliberada violação de direitos humanos, principalmente em países vizinhos, sem com isso ferir o princípio da não intervenção.

Da mesma maneira, espera-se que reiterem não ter o propósito antidemocrático de derrubar governos, mas tampouco o temor de cumprir seus deveres constitucionais, se os fatos e a lei assim o impuserem.

EL PAIS; ESPANHA

 
Brasil põe à prova sua democracia PDF Imprimir E-mail
Escrito por Indicado en la materia   
Jueves, 09 de Julio de 2015 11:56

Por Juan Arias.-

não é a Venezuela nem tampouco a Grécia, embora haja analistas políticos que alertem para a fragilização da democracia do país. Não existem, de fato, democracias para sempre. Elas são conquistadas a cada dia.

Um dos pilares que ajudou o Brasil a crescer e que lhe outorgou respeito internacional foi a consolidação, passo a passo, de suas liberdades democráticas, depois da ditadura militar. Diante da imagem de muitas democracias frágeis dentro do continente e de tentações autoritárias na velha Europa, o Brasil sempre foi visto, apesar de seus desequilíbrios sociais e de seus altos índices de violência, como uma sociedade na qual os poderes do Estado têm funcionado sem sobressaltos e com liberdade.

Hoje é assim? Não é segredo que o país atravessa uma de suas mais graves crises, como destacam editoriais de importantes meios de comunicação nacionais e estrangeiros. Uma crise que não é só econômica, mas também e, talvez, sobretudo, política e ética.

O Brasil tem recursos naturais e humanos para poder sair da crise econômica que o atormenta e que parece agravar-se a cada semana com a multiplicação dos índices negativos de crescimento do PIB, inflação, juros, redução da atividade industrial e desemprego.

Da crise econômica é possível sair com um novo modelo de crescimento capaz de reparar os danos sofridos por políticas erradas e pecados de desperdício de recursos públicos ou de um excesso de nacionalismo. Basta querer.

Mais difícil parece ser superar o momento político que se apresenta cada dia mais emaranhado, azedado, imprevisível e até perigoso.

Um país com um governo tão frágil que nem sequer é apoiado por seu partido, o PT, nem pelo maior aliado, o PMDB. Um governo criticado duramente até pelo ex-presidente Lula, com uma presidenta como Dilma, com 9% de apoio popular -- de quem se pede a saída todos os dias na rua, nos palácios do poder econômico e nas redes sociais--, corre o perigo de ver sua democracia minada.

Até a mais sólida das democracias acaba degenerando em tirania quando a oposição é despojada do seu papel fundamental de vigiar

Há quem se pergunte como um país da envergadura do Brasil pode continuar a legislatura inteira (iniciada há apenas seis meses) com essa espada de Dâmocles por cima exigindo uma mudança que não pode ocorrer a não ser pelas vias democráticas.

Jornais sérios, como o Valor Econômico, explicam as supostas manobras do PMDB, o partido mais importante da coalizão de Governo, para apear Dilma do poder. Personagens como Lula tacham o Governo de mudo, incapaz de reagir e afirmam que Dilma está politicamente morta.

Por sua vez, a presidenta afirma que não deixará a cadeira e desafiaos que pretendem isso com um “venha tentar”.

Enquanto isso, a explosão do vulcão da corrupção na Petrobrasameaça chegar à praia do Palácio Presidencial com a possibilidade de que a mandatária, com seu padrinho Lula, possa ser denunciada por ilegalidades que a obrigariam juridicamente a perder o cargo. E é certo que em 16 de agosto os muitos e poucos cidadãos que sairão à rua convocados pelos movimentos de descontentes com o governovoltarão a gritar “Fora, Dilma!”.

Tudo isso poderia entrar no jogo democrático e em muitas ocasiões essas crises servem até para fortalecer a democracia, como ocorreu com o caso Collor, em que triunfou o desejo democrático da sociedade.

O perigo de hoje no Brasil é que está sendo posto em discussão, talvez pela primeira vez, um papel indispensável para a solidez de uma democracia, que é o da oposição.

O Brasil tem, com efeito, pouca consciência de que, em uma democracia, tão importante ou mais que o papel do Governo é o da oposição, à qual se tenta, às vezes, ver como inimiga da democracia.

Até a mais sólida das democracias acaba degenerando em tirania quando a oposição é despojada do papel fundamental de vigiar, controlar e denunciar o governo quando considera que se desviou do mandato recebido nas urnas, ao mesmo tempo que o de organizar-se para chegar ao poder com programas alternativos que deverão ser julgados pela sociedade.

O fato, por exemplo, de que seja tachado de “golpe” a ação da oposição, que exige prestação de contas ao Legislativo, não é mais do que o desejo de deixá-la de mãos atadas e demonizá-la.

Até agora ninguém foi capaz de demonstrar, por exemplo, que o maior partido de oposição, o PSDB, que hoje venceria amplamente nas urnas até mesmo um candidato invencível como Lula, tenha planejado algum tipo de golpe inconstitucional. Quando muito se poderia dizer que, dada a grave crise global que vive a sociedade brasileira, a oposição está mais para tímida e até excessivamente respeitosa.

Sem dúvida, algo que o PT não deveria esquecer, já que ele e seu líder maior, Lula, com os sindicados e os movimentos sociais, exerceram uma oposição sem trégua ao governo democrático do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, e pedia nas ruas, dia sim, dia não, sua saída do Governo. E ninguém então o tachou de golpista, e ele conseguiu chegar ao poder.

O Governo tem que governar e à luz do sol. Quando fracassa, a culpa é só sua

O Brasil tem hoje a sorte de que a sociedade não exige nas ruas soluções extremistas ou revolucionárias para a crise. Não surgiram nem sequer partidos novos antipoder nem de extrema esquerda nem de extrema direita ou inimigos da democracia. Nem tampouco candidatos aventureiros.

Todas as soluções que se apresentam a partir da oposição não podem ser mais conservadoras, todas elas dentro do quadro das democracias tradicionais que preveem alternativas de poder como antídoto contra a corrupção de governos eternizados no poder.

Às vezes até parece que a crise de que o Brasil padece é culpa da oposição, como se tenta demonstrar a um eleitorado menos informado. Mas é culpa do PSDB que o Brasil acabe o ano em recessão e com uma inflação de 9% ou com as maiores taxas de juros do planeta ou com o fantasma do desemprego assombrando os trabalhadores?

É culpa da oposição a corrupção que tem sangrado a Petrobras, o enfraquecimento da indústria, a perda de confiança dos empresários no Governo ou a falta de investimentos? Ou que acabem não decolando os projetos de criação de infraestrutura, que morrem velhos sem ser concluídos?

Uma democracia de verdade tem suas regras fundamentais. O Governo tem que governar, e à luz do sol. Quando fracassa, a culpa é só sua, não da oposição, cuja função é desmascarar as artimanhas do poder quando beira a ilegalidade.

Não é golpe exercer até com dureza o papel de oposição. Golpe é, quando muito, o que fazem às vezes nas sombras os que têm a responsabilidade de prestar contas à sociedade sobre como se empregam seus impostos e que levam a cabo manobras pouco ortodoxas para se manter a qualquer custo no poder.

Quanto mais a crise se alongar e gangrenar, mais a democracia estará em perigo. É dever da oposição não deixar que a situação chegue a degringolar, seja por medo de exercer seu papel ou por não saber encontrar soluções alternativas que convençam uma sociedade desmoralizada e desiludida.

EL PAIS; ESPANHA

 
Ilusões perdidas (O delirio megalomaníaco do PT) PDF Imprimir E-mail
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Viernes, 19 de Junio de 2015 12:15

Por Luiz Ruffato.-

Ubi sunt qui ante nos fueront?” é uma expressão latina, mote de vários poemas medievais, que, traduzida, pergunta: Onde estão agora aqueles que existiram antes de nós? É um questionamento sobre a transitoriedade da vida, mas pode também ser tomada como uma reflexão a respeito das pessoas e ideias nas quais um dia depositamos crédito e que, desafortunadamente, nos decepcionaram de maneira irrevogável. Quando isso ocorre nas relações privadas desenrola-se um drama. Se na vida comunitária, encena-se uma tragédia.

O financiamento público de campanhas eleitorais esteve desde o início entre as principais bandeiras do PT como arma no combate à corrupção. Em 2013, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a defender uma reforma política que caracterizasse o financiamento privado como crime inafiançável. No entanto, passados pouco mais de dois anos, Lula voltou atrás e afirmou não ver problema em, “de cabeça erguida”, o PT aceitar dinheiro de empresas para patrocinar candidaturas.

Por muito menos, em 1997 a ex-prefeita de São Paulo e deputada federal Luiza Erundina foi pressionada a deixar o partido após aceitar convite do ex-presidente Itamar Franco para assumir uma pasta em seu ministério. Na época, o PT havia se colocado em oposição incondicional ao governo, aliás, um enorme equívoco – Itamar revelou-se fiador da nossa frágil democracia e iniciou o processo de estabilização da economia. Ironicamente, para reeleger a presidente Dilma Rousseff e manter-se no poder, no ano passado o partido não titubeou em aceitar o apoio do ex-presidente e atual senador Fernando Collor, que renunciou ao mandato em 1992 para evitar o impeachment por corrupção.

O PT surgiu em fins dos anos 1970 como uma novidade histórica: uma agremiação de esquerda alicerçada em movimentos populares, sem o ranço do autoritarismo reacionário comunista. Assentado em um discurso reformista que pregava mudanças políticas e sociais respeitando as regras da democracia, o partido se consolidou ao longo dos anos 1980. No entanto, na medida em que ganhava eleições municipais e estaduais, os princípios éticos que norteavam os ideais petistas iam se esgarçando. Finalmente, quando alcançou o governo federal em 2003, pouco restava do pensamento original.

O preço que a sociedade está pagando pela submersão do PT na areia movediça da degradação moral é incalculável

É indiscutível que ainda assim houve importantes avanços, principalmente no campo social –aspecto que delimita a diferença radical entre as práticas políticas de esquerda e de direita. Mas o preço que a sociedade está pagando pela submersão do PT na areia movediça da degradação moral é incalculável. O cinismo com que quadros do partido justificam as atitudes de dirigentes envolvidos em crimes de corrupção, muitas vezes usando argumentos que quase chegam a repetir o lema “rouba, mas faz”, é estarrecedor. Exemplo recente é a moção de apoio ao ex-tesoureiro João Vaccari Neto, que encontra-se preso acusado de desviar recursos da Petrobras – antecipando-se à Justiça, o partido presume sua inocência.

Em 1982, durante campanha para eleição ao governo do Estado de São Paulo, na qual foi derrotado, Lula pronunciou uma famosa sentença: o PT mata a cobra e mostra a cobra morta. Hoje, o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamoto, vem a público declarar que o que houve no mensalão foram “erros” e não crimes. A ética relativa do PT exemplifica em que se converteram os ideais do início da formação do partido. Suas lideranças pouco a pouco assenhoraram-se da verdade, tornando-se comandantes messiânicos pairando acima do bem e do mal. O sectarismo advoga que os fins justificam os meios. Esquecem-se, no entanto, que, se a verdade é transitiva, a ética é um princípio basilar inegociável.

Esse delírio megalomaníaco do PT não afunda apenas o partido, mas configura-se como um perigoso revés para a nossa débil democracia, já que, equiparando-se aos outros partidos, esvazia a esperança dos que um dia sonharam com um Brasil mais justo. Por conta dos desmandos dos gestores do PT, o país encontra-se refém do PMDB, que tem como líderes os presidentes da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do Senado, Renan Calheiros – este, aliás, para quem não se lembra, ministro da Justiça do governo de Fernando Henrique Cardoso.

EL PAIS; ESPANHA

Luiz Ruffato é escritor e jornalista.


 

 
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